Ficar distante do barulho, do estresse, do engarrafamento e da violência. Esse é um desejo da maioria das pessoas: ter uma vida mais tranquila. Contudo, poucos têm a coragem de largar a vida da cidade grande. Um homem foi ainda mais ousado e, além de deixar sua cidade natal, se mudou para uma ilha deserta.
Há 32 anos, o paulistano Caio Rodrigues deixou a capital de São Paulo, e se tornou o único morador da Ilha dos Gatos, a cinco quilômetros do continente. Caio, que chegou à Ilha para trabalhar como caseiro, revela que a decisão foi motivada pela oportunidade de manter contato com a natureza. “Fui comerciante, comerciário, bancário, trabalhei no transporte de carga do aeroporto de Congonhas. Depois que meu primeiro filho nasceu, eu queria uma vida mais saudável”, disse.
Inicialmente, o paulistano viveu cerca de três anos e meio com a mulher e três filhos na ilha. “Eles ficaram aqui até minha filha mais velha criar idade para poder ir para a escola. Após isso eles foram morar na praia, que fica a dez minutos daqui. E eles estão aí, próximos, todo dia encontro com eles, falo com eles”.
Há três décadas no local, o homem adapta seu cotidiano aos recursos disponíveis da Ilha. “Na despensa não falta nada, está sobrando. Eu como arroz, feijão e macarrão. Como não tem açougue, eu pego peixe na hora, em frente de casa. A água não está chegando até aqui, mas eu busco num lençol freático, a água sai totalmente doce”, afirmou.
Caio afirma que já ficou mais de vinte dias sem conversar com ninguém. “Só usava a voz para cantar no violão, justamente para exercitar um pouco. Eu tinha um cachorro e eu costumava falar bastante com ele. É uma questão de consciência, existe um diálogo com você mesmo. Quando você consegue ouvir alguma coisa é de você mesmo. Não há interferência nenhuma, nenhuma buzina”.
Com 75 mil metros quadrados, a Ilha dos Gatos era propriedade de uma família norte-americana, na década de 1960. Atualmente, a Ilha pertence à União e está inscrita em nome da Sociedade Ecológica Brasileira. O cotidiano do único morador do local surpreende os turistas, mas Caio garante que a experiência de viver na ilha é positiva. “Só tem que ter paciência de esperar as coisas acontecerem. As coisas vêm até mim normalmente”, conclui.
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