Semana passada, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao Supremo Tribunal Federal pedidos de abertura de inquérito para investigar vários políticos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.
Ao todo são 54 pessoas, dentre elas senadores, deputados, ministros de Estado e grandes empresários. A participação deles em um dos maiores escândalos de desvios de verbas públicas foi revelada nas delações premiadas de dois confessos articuladores da corrupção no país: o Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, que se utilizava de sua posição na empresa para facilitar a vida de empresários e botar muito dinheiro nas mãos de políticos corruptos) e Alberto Youssef (doleiro que, ao que se tem notícia, chefiava quadrilha e que possui nos bastidores da política muitos aliados, sócios e amores que facilitam suas negociatas).
Os dois firmaram acordo com o Ministério Público Federal para colaborar com as investigações. E baseado no que eles contaram, Rodrigo Janot solicitou quebra de sigilos bancário e fiscal dos políticos, além da abertura dos inquéritos mencionados.
Ocorre, leitor, que temos que avaliar duas questões:
A primeira: não podemos criar expectativas acerca de um julgamento desses grandes políticos, empresários e lobistas pelo STF, porque senão vamos nos frustrar. O STF não tem por hábito punir políticos influentes e o Mensalão (caso alguém resolva citar seu julgamento como exemplo) foi uma exceção na história da Corte Máxima. Mas como a investigação do Procurador Geral é uma das mais profundas, uma das que mais dissecou os bastidores da política brasileira, que ela nos sirva de exemplo e lição, para compreendermos nosso país e buscarmos – através do voto – expurgar esses nomes da política brasileira.
Se esperarmos que o STF faça nosso papel na limpeza da corrupção, vamos ficar a ver navios.
A segunda questão é que a lista do Procurador trará nomes óbvios. Muito óbvios! É se enganar achar que o Procurador-Geral descobriu algo que nós já não soubéssemos. A lista ainda não foi divulgada na sua totalidade, mas constará dela nossos velhos conhecidos bandidos de sempre.
Os presidentes das duas Casas do Congresso (não que eu os inclua na expressão “velhos conhecidos bandidos”) estão na lista. E porque será que ninguém ficou admirado com isso, né? Renan Callheiros é um indivíduo que já chegou ao cúmulo de pagar pensão para amante com dinheiro público, entregue em mãos por um lobista e empresário; e Eduardo Cunha, pessoa cuja vasta lista de inquéritos que já respondeu não pode ser citada nesse artigo por falta de espaço.
Só que o mais impressionante é que nenhum dos dois pareceu ofendido com a revelação, claro, porque sempre souberam que mais dia menos dia seriam citados. E outra: ambos demonstraram chateação (inoportuna) com o governo e a presidente Dilma, como se o fato do nome constar na lista fosse obra do PT. E não é. Ambos constam na lista do Procurador por atitudes pessoais relacionadas ao recebimento de dinheiro de empresas investigadas.
Isso nada tem a ver com perseguição do governo ao PMDB, até porque ninguém está mais envolvido nessa história até o pescoço do que o próprio governo.
Daniele Barreto é advogada, consultora política e escreve no blog www.danielebarreto.com.br