Um município como Riachão do Jacuípe, que nunca teve a sorte de eleger um governo autenticamente comprometido com as demandas prioritárias locais, só tem uma esperança para o próximo ano. Trata-se da possibilidade remota de a sociedade se organizar e levantar-se como uma via autônoma de construção de um projeto político à altura das necessidades do povo.Em vez disso, é mais fácil o povo se encantar por qualquer um ou uma que apareça, fazendo os mais ingênuos acreditarem que ele ou ela tem, por si só, o poder de mudar todas as coisas.
Acontece que já houve tempo suficiente para as pessoas perceberem que esta é a receita certa do fracasso, posto que já experimentaram por muitas vezes os supostos salvadores da pátria e o resultado sempre foi pífio. Espera-se que os gatos escaldados se tornem mais precavidos, diante de candidaturas personalistas, mas não só. É necessário que as lideranças populares de bairros, comunidades e entidades civis comecem urgentemente a se articular, no sentido de construir um projeto político e – só depois disso – passem a pensar em um ou mais nomes que sejam capazes de levar tal projeto adiante. (Pode até ser um nome que já esteja em voga, mas também pode ser alguém novo no cenário político), contanto que não seja um projeto de um ou outro candidato ou candidata, um projeto com donos, e sim uma construção dos segmentos sociais que se cansaram de panelinhas políticas brincando de administrar cidades. Toda vez que menciono isto, há quem pense que estou legislando em causa própria, mas asseguro que não existe o menor interesse de minha parte em concorrer a cargos eletivos e mesmo se eu o tivesse, talvez a minha franqueza atrapalhasse bastante o sucesso da campanha, porque uma das primeiras coisas que eu iria dizer é que governo nenhum conseguirá atender ao alto nível de expectativa da população.Acredito firmemente que há líderes locais com vergonha na cara o suficiente e capacidade técnica e política para assumir um projeto político feito pelas bases. Via de regra este tipo de liderança é o que menos tem ambição pelo poder, por isso, seus nomes aparecem pouco. Logo, as lideranças políticas que mais sobressaem são as mais ávidas por prestígio e poder e, consequentemente, as menos indicadas para algo como o que está sendo proposto aqui.
Em todo caso, é preciso acalentar ainda a esperança, despertar os líderes populares e as entidades civis, se quisermos ter um futuro governo transparente, sem prioridades invertidas, sem abuso de poder e com firmeza suficiente para não se dobrar sob as disputas políticas internas que são, de resto, o que mais prejudica a saúde de uma administração pública.O tempo escorre veloz, mas ainda há tempo. O problema é que certas lideranças comunitárias estão descrentes, outras, dementes e outras ainda, coniventes, contudo, há muitas pessoas em quem se pode confiar.
Com este artigo, penso que faço a pequena parte que me cabe. Cabe agora aos leitores que compreenderam a proposta propagá-la. Fora da cidadania ativa, só existe reclamação estéril, superstição na compreensão da realidade, privilégios de uns e necessidades daqueles a quem as políticas públicas não alcançam. Quem tardar a compreender isto, talvez promova os candidatos de si mesmos, que sempre são muitos, porque os cidadãos participantes ainda são sempre poucos.
José Avelange Oliveira é assessor do Deputado Estadual Joseildo Ramos e atua em projetos de cultura e cidadania.