O presidente Lula, na última segunda-feira,(22-06) palestrou ao lado do ex-primeiro-ministro da Espanha Felipe Gonzalez, afirmando que o PT está velho, viciado em poder apegado a cargos e perdeu sua capacidade de gerar sonhos. O discurso se deu menos de 10 dias após a realização do Congresso Nacional do partido, em Salvador. No evento, o ex-presidente se ateve a manter o status quo da legenda, que reafirmou a parceria com o PMDB e não mostrou disposição a rumos novos. Assim, a afirmação que se seguiu essa semana constitui uma “facada pelas costas” da militância – que não ouviu, do mesmo Lula, criticas dessa natureza “frente a frente” no Congresso partidário.
Diante da sinceridade calculada do petista, alguns políticos e analistas se puderam a dar crédito e acelerar uma possível morte do partido. Eu não tinha conhecimento sobre a estrutura interna do PT. Procurando me informar mais, e estudar os meandros do partido, arrisco afirmar sem qualquer dúvida: não há nenhuma possibilidade do partido deixar de existir (ou enfraquecer ao ponto de se imaginar essa possibilidade). Em nenhuma hipótese, nem com a ruína da cúpula ou qualquer outro evento político e/ou jurídico, isso está sequer próximo de acontecer. Acredito que o antipetismo aumente até o final do ano (dias piores ainda virão para a agremiação) e que jamais volte a gozar do prestígio e da credibilidade de outrora (ou não, porque se até FHC conseguiram ressuscitar, tudo é possível), mas vai passar por uma reestruturação profunda. Vai ter que passar!
E eu entendo que a maior qualidade do partido é também o ponto que precisa ser reavaliado (cautelosamente) e modificado: a militância. Embora seja indiscutível que a militância petista (especialmente a juventude) é a mais estruturada, organizada e bem disposta, e que sustenta a agremiação hoje – tendo papel fundamental na vitória nas urnas no último pleito – compreendo que esse é o ponto de reformulação necessário. E é o ponto de reformulação possível (porque existem outros pontos nevrálgicos, mas a mudança neles carece de viabilidade). A militância é muito fechada, com pouca capacidade de diálogo e, atualmente, quase nenhum poder de convencimento (de convencer quem não é do grupo, obviamente).
No momento em que o partido perde força, vê sua credibilidade despencar e vive seu pior momento, a militância não se reestrutura, continua “ensimesmada”, falando para dentro, dialogando isoladamente – e o pior: ORGULHOSA DISSO! (?????) Orgulhosos desse erro fatal. No momento em que seus argumentos já não convencem muita gente, a militância é incapaz de utilizar as inúmeras qualidades que possui – conhecimento sobre história, poder de mobilização, engajamento político, inteligência, disposição física e mental/intelectual – para se permitir OUVIR o país, reestruturar seu discurso (não estou falando de perder a essência, obviamente, senão não teria sentido) e mudar os rumos. Acostumada a ver suas “estratégias” e diálogos darem certo, a militância petista não percebeu quando iniciou a fase de “não mais conseguir convencer”. Não percebeu e ficou presa em si mesma, convencendo os já convencidos, dialogando com os iguais, militando em prol… dos mesmos (e com os mesmos)…
Hoje, ela: não se abre ao novo; não possui conhecimento sobre marketing político (erro terrível das lideranças); dialoga apenas entre os “iguais”; fazem cara feia para qualquer crítica (e fará para essa); não está disposta a ouvir para tentar convencer o interlocutor; usa discursos ultrapassados e já rechaçados por setores importantes (“importante” no sentido de estratégicos para ocupação de espaços) da população; não percebe que se limitar a bradar palavras de ordem pode ser divertido/bacana/útil/eficiente, mas não está trazendo novos membros para o partido (um dos maiores problemas do PT hoje, não cresce, não expande, SÓ RETRAI); não reflete sobre os pífios resultados nos pleitos; não absorve o momento político do país de forma a reagir propositivamente; quer empurrar sua adoração aos velhos líderes goela abaixo de todo mundo que tenta dialogar com eles… Enfim: uma séria dificuldade de aceitar o que não é “espelho”.
O partido não vai acabar! Mas se a militância descobrir que além de seu valor (inquestionável – vide eleições 2014 – mas não otimizado) possui nas mãos a possibilidade de mudança de rumos da agremiação, poderá obter resultados melhores. Mas eu arrisco dizer que, dos discursos que ouço e do que tenho lido em alguns perfis do face, dificilmente essa mudança acontecerá.
Agregar para não minguar! Fora isso, o PT vai sangrar até virar mais um partido!
Daniele Barreto é colunista e advogada.