O moralismo e o vanguardismo prestam um enorme desserviço a qualquer debate. Digo isto para pedir que as minhas considerações sobre a ideologia de gênero não sejam sumariamente aceitas ou repelidas em razão de minha identidade cristã/católica.
Vivemos tempos turbulentos, em que fundamentalismos das mais variadas matizes subjugam o senso comum. Com isto, estamos paulatinamente perdendo a capacidade de julgar de forma razoável os acontecimentos da vida.
Está em debate, por todo o País, a introdução nos Planos Municipais de Educação da denominada Ideologia de Gênero. Seus defensores argumentam que a subtração nas grades curriculares das referências do masculino e do feminino, é uma forma de combater a homofobia. Como as Igrejas de um modo geral são contrárias a esta proposta, o debate assumiu equivocadamente um contorno de cristãos versus grupos LGBT.
É dever de toda a sociedade garantir a segurança de todos os indivíduos, sem fazer qualquer tipo de exceção. Logo, toda a forma de discriminação deve ser combatida, seja classista, racista, sexista, regionalista.
Ocorre que os avanços sociais não podem renegar os nossos valores, devendo isto sim, adaptá-los.. Com isto, a aceitação das orientações religiosas, das opções sexuais e das escolhas filosóficas das pessoas, não anula a essência de nossa formação cultural.
Como disse a socióloga Helieth Saffioti, “cada ser humano é a história de suas relações sociais, perpassadas por antagonismos e contradições de gênero, classe, raça/etnia”. Assim, para combater o racismo, de nada adiantaria negar a diversidade de raças. O mesmo raciocínio vale para a questão dos gêneros masculino e feminino em relação a homofobia.
A formação social do indivíduo se pauta por uma série de referências. Tais referências são construídas ao longo das experiências das gerações. Daí resulta o nosso senso comum, que é o conjunto de valores e crenças, pelos quais firmamos padrões de razoabilidade e de naturalidade.
Dizer a uma criança que ela é menino ou então que ela é menina, em absoluto implica em dizer que ela será um adulto intolerante ou reprimido, que não poderá fazer suas opções sexuais e respeitar as opções dos outros. Da mesma forma que a orientação sexual de uma pessoa deva ser respeitada, seu gênero biológico e toda a carga cultural que sobre ele recai não podem ser negados.
Ao contrário do que alguns proclamam, a Igreja Católica é inclusiva. Quem melhor demonstrou isto foi o Papa Francisco em seu retorno do Brasil, quando disse que, se alguém é homossexual e procura Cristo, quem seria ele (o Papa) para julgá-lo? Recordo tal fato para desmistificar o caráter fundamentalista que tentam imprimir a este debate.
A definição de gênero tem base biológica. Não nos esqueçamos de que a humanidade já pagou altos preços quando a intolerância separou moral e ciência. Lembrar disto é fundamental para que a discussão sobre a ideologia de gênero gere mais luz do que calor.
Alex da Piatã é deputado estadual.