O governador Rui Costa até agora tem sido uma grata surpresa. Eu não imaginava que ele tivesse uma visão macro da Bahia, como vem demonstrando; e excetuando-se um ou outro encosto, conseguisse montar uma equipe que atuasse direitinho. Lembro que durante o governo anterior, de Jacques Wagner, a filosofia administrativa era pedir a Deus que o “colaborador” não atrapalhasse, tanto foi o “fogo amigo” que Wagner teve de enfrentar.
Rui tem demonstrado fôlego em sair pelos caminhos de toda a Bahia para ver de perto a quantas anda o estado e tem tido paciência para parar e ouvir o bebum da cidade, o prefeito pidão, o deputado sabido, o vereador “entrão” e a mãe de família que pede professor na escola; professor que quer escola, médico para todos e emprego para que não se gerem os ladrões.
Até quando vai aguentar o tranco não se sabe. Vamos esperar o tempo passar. Lembro de alguns governadores que acompanhei, fazendo cobertura como repórter, que eram excelentes pessoas, educados, mas que aos poucos foram perdendo a paciência, minando as forças e vendo que o povo e os políticos que os cercavam eram verdadeiras “malas sem alça”.
O governador Roberto Santos, professor de nível superior, bem nascido, homem acostumado aos rapapés e dos salões, que já nasceu sabendo pegar nos talheres e a diferença entre um prato fundo e um Sousplat; de uma taça de vinho branco da de vinho tinto e homem viajado, deu azar de pegar o governo num dos piores períodos de seca do nordeste.
Várias vezes viajei para acompanhar seu périplo pelas cidades da Chapada e do Nordeste baiano, onde ia ver se chegaram as sementes de feijão e milho e os caminhões carregando água que mandava via Secretaria da Agricultura. No início, como aconteceu em Ribeira do Pombal, ele foi recebido com festa e ouviu todo mundo, um por um dos lavradores, atentamente, como se fosse o papa Francisco ouvindo as compridas confissões e os pedidos e queixumes.
Meses depois, quando já tinha corrido tudo que era município e voltou a Ribeira do Pombal ele já fazia como subcelebridade no shopping neste tempo de selfie: ia passando, apertando rapiudamente a mão e fazendo ouvidos moucos. O governador já não tinha saco para ouvir os pedidos, nem para apertar a mão do bêbado da cidade e muito menos dar atenção aos puxa-sacos.
Outro governador que a princípio tinha saco para atender a quem fosse e ouvir como se fosse a coisa mais importante do mundo o cara contar que a filha tinha fugido com o vizinho casado e queria que mandasse a polícia atrás foi o ex-governador João Durval. Talvez pelo seu jeito sertanejo, homem lá da Princesa do Sertão, deixava formar fila na governadoria e perdia a hora do almoço atendendo a todo tipo de gente. Não lembro se foi na construção da Barragem do Cavalo ou de Santa Helena que prestei atenção ele ouvindo um homem do povo ensinando como deveria ser a barragem, como devia ser montada, estruturada, como se fosse engenheiro. Era cada sandice de doer, mas ele só arredou pé quando o homem cansou de falar. Mas, tempos depois acompanhando sua ida a algumas cidades do interior já vi que ele, meio sem jeito, se esquivava das legiões de pedintes e políticos. Procurava chegar, resolver, pegar o banquinho e sair de fininho.
ACM era diferente e mais cheio de truque. Onde chegava sempre tinha uma multidão, mas seu saco não era tanto e para se livrar do assédio levava toda a entourage de assessores e secretários e quando alguém pedia ou falava alguma coisa, ele de passagem já dizia: “É com você fulano!”. E o assessor ou secretário já puxava o cidadão de lado, anotava e prometia atender. O problema já era do outro, caso não fosse cumprida a promessa. Mas ACM, de todos os governadores, era aquele que mais atraia bêbado. Coisas que sua assessoria militar já sabia como proceder, carregava uma verba extra no bolso e levava o cara para tomar mais uma na quitanda.
É bom saber que todo bêbado do interior é termômetro de popularidade. Se eles não puxam um governante pela manga da camisa o cara não está com nada. Vou prestar atenção como anda Rui Costa e os bebuns e te direi se ele vai forte ou franco para as eleições de prefeitos. É dito e certo.