A escalada do dólar tem sido firme e constante. Nos 12 meses encerrados na sexta-feira (5), a desvalorização do real em relação à moeda americana chegou a 71,57%. Uma perda maior para o mesmo período só ocorreu em março de 1999, de acordo com cálculos da consultoria Tendências.
No ano em que o país abandonou a âncora cambial, a moeda brasileira desvalorizou 91,6%. A mudança de patamar do câmbio está provocando uma desorganização momentânea da economia e impactando diretamente o cotidiano das pessoas e das empresas. Espera-se, por exemplo, que a desvalorização do real seja um caminho para o Brasil sair da atual recessão, por meio do impulso nas exportações e pela consequente melhora do setor externo. “Quanto mais depreciado o câmbio, mais competitivos vão estar os produtos tanto para a exportação como domesticamente”, afirma Bruno Lavieri, economista da Tendências. Para quem importa, porém, a conta começa a ficar mais cara.
Dono de uma importadora de brinquedos, material escolar e artigos de bazar, Ronaldo Funtowicz, de 57 anos, sentiu o peso do câmbio em seu negócio. “À medida que aumenta o dólar, aumenta o custo. Somos obrigados, para manter a demanda, a sacrificar a margem, para passar por esse período”, afirma. Os preços subiram em média de 20% a 25%, e os estoques estão mais altos do que em 2014. “Em outubro vamos à China para comprar brinquedos, e vamos trazer uns 30% a menos do que no ano passado”, contou o empresário.
A desvalorização do real também desestimulou quem pretendia encher as malas com produtos de outlets numa viagem ao exterior. “Quando o dólar estava R$ 3,35, as pessoas não se assustavam. Quando passou de R$ 3,60, elas começaram a fazer contas”, afirma Leonel Rossi Junior, vice-presidente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Agentes de Viagens.
Segundo a associação, a demanda para viagens no exterior caiu 10% neste ano. “A procura só não foi menor porque houve uma queda significativa no preço das passagens”, afirma Rossi Junior. Ele espera que, no segundo semestre, haja mais demanda por destinos domésticos – de 5% a 7% a mais do que em 2014.
Estadão Conteúdo