A família do estudante brasiliense Artur Paschoali, desaparecido em Santa Teresa, no Peru, já desembolsou cerca de 230 mil reais na busca pelo filho em mais de dois anos. Para levantar dinheiro para pagar a viagem ao Peru e gastos com detetives, guias e advogados, a família organizou rifas, vendeu um negócio, recebeu doações e tomou empréstimos em bancos.
“Vendemos a lanchonete e conseguimos R$ 18 mil. Com a rifa, conseguimos R$ 23 mil e com a tarde de tortas, R$ 53 mil”, diz a mãe, Susana Paschoali, em entrevista ao G1 Distrito Federal.
“Também contamos com a doação dos nossos amigos desde o primeiro dia que chegamos lá”, afirma. Já Wanderlan Paschoali, pai do jovem, acredita que 100 mil reais foram gastos só com buscas em terra.
Wanderlan afirma que viajou todo o Peru a procura do filho, que na época tinha 19 anos e estudava artes cênicas na Universidade de Brasília (UnB). Ele desapareceu em dezembro de 2012. “Estive no deserto de Nazca, estive na costa peruana, estivemos também com um guia profissional na selva amazônica, em inúmeras tribos índigenas, em várias montanhas, em cidades, em zonas de forte influência do Sendero Luminoso, algo realmente muito perigoso. Tivemos que despender uma quantidade muito grande de recursos financeiros.”
A família acredita que Artur possa ter sido sequestrado pelo Sendero Luminoso, grupo guerrilheiro de esquerda ligado ao narcotráfico. “Descobri que é comum que eles vendam pessoas no Peru, quando têm dívidas com o Sendero Luminoso ou com o narcotráfico, e fui em busca desse grupo para tentar algum contato, tentar saber se tinha alguma informação.
O pai, inclusive, tentou fazer contato com o grupo, mas não obteve sucesso. Contudo, alguns locais informaram que Artur não estaria sob a guarda do Sendero. “Não temos certeza de que as informações eram verdadeiras ou apenas para nos despistar, uma vez que existiam indícios de que isso possa ter ocorrido. Ou seja, uma pessoa pode ter vendido meu filho para o Sendero Luminoso”, contou.
Inicialmente, o caso era tratado como desaparecimento mas, após dois anos de apuração por conta própria, Susana e Wanderlan conseguiram reunir provas suficientes para que o filho fosse considerado uma vítima de crime. Moradores de Santa Teresa, inclusive, afirmam terem ouvido pedidos de socorro vindo de dentro da casa onde o estudante ficou hospedado, que pertencia ao ex-patrão dele.
Com a retomada do caso, a polícia encontrou, uma poça de sangue no local. A amostra foi coletada em 31 de julho, e foi levado a um laboratório forense em Lima para ser comparada com o DNA do pai de Artur. Na última sexta-feira (18) entretanto, a família foi informada pelo advogado contratado no país que o material ainda não havia sido submetido à análise.
“Segundo informações que temos, uma vez que o material é exposto ao luminol [substância que quando borrifada no ambiente aponta resquícios de sangue], em 60 dias já começa o processo de degradação. É uma notícia que recebemos com muita tristeza”, afirma Wanderlan.
“Estou lutando contra o tempo. Jogaram luminol em tudo, todo o sangue vai degradar, não só o que foi coletado.”
Uma ida ao Peru com parlamentares e peritos da Polícia Civil, organizada pela Câmara Legislativa do Distrito Federal através da Frente Parlamentar de Apoio às Famílias de Pessoas Desaparecidas, estava agendada para o dia 22 de setembro, mas não aconteceu devido à crise financeira enfrentada pelo Governo.
O objetivo da viagem é reunir as autoridades brasileiras com as peruanas e tentar agilizar a análise dos exames. A frente ainda tenta trazer uma amostra do material para ser analisada no Brasil.