Todo mundo supõe que a arte é necessária à vida, mas o que é arte? Se você não consegue responder prontamente, não se preocupe. Nem os artistas sabem direito definir a arte. Tanto é que, em 1978, o artista e poeta pernambucano Paulo Bruscky vestiu uma espécie de cartaz de papelão com as perguntas “o que é arte?” e “para que serve?”, ficando exposto, ele mesmo, na vitrine de uma livraria, e andando pelas ruas. A performance chamava a atenção de todos, numa época em que não se podia dizer tudo o que era preciso, nem mesmo através da arte. As fotografias feitas para registrar a atitude corajosa de Bruscky foram expostas recentemente, durante a 29ª Bienal de Arte de São Paulo.
É possível dizer que o sentido e a função da arte varia conforme o tempo e os lugares e que convém nos perguntarmos para que serve a arte, em nossa sociedade, em nosso dia a dia. Provavelmente vamos concluir que a arte poderia aumentar nossa qualidade de vida, além de promover o desenvolvimento local. Disso resulta outra pergunta importante: Que lugar tem a arte em nossa rotina pessoal, em cidades como Riachão do Jacuípe e outras que galgam os primeiros passos para o desenvolvimento?
Tudo leva a crer que estamos aquém das imensas possibilidades artísticas que poderiam conferir maior sentido às nossas existências e mais paz social. Todos conhecemos gente que se queixa de solidão, depressão, vazio, tristezas inexplicáveis, etc. Ou não conhecemos, porque muitos sequer falam do que sentem. Antes de tudo, essas pessoas precisam ser orientadas e encorajadas a buscar tratamento adequado, mas se sabe que o sucesso desses tratamentos também está relacionado às práticas integrativas, que incluem, claro, a arte. Mas quantos de nós estamos atentos a esta possibilidade? Quantas pessoas já são capazes de perceber que a arte não é somente questão de dom e que qualquer um pode aprender a fazer arte?
O problema é que estamos de tal modo acostumados à influência da indústria cultural, a ponto de pensarmos que somente os famosos podem fazer arte e que a arte só pode ser feita numa perspectiva capitalista. Ledo engano! Antes de tudo, a arte pode servir para oferecer alegria e emoção àqueles que estão próximos de nós e longe do acesso aos bens culturais a que todos têm direito.
Estamos diante de um déficit de arte, em nossa sociedade, e isto pode ser perfeitamente corrigido quando as pessoas forem despertadas para abandonar o sedentarismo físico e mental e passarem a produzir arte, mormente a arte teatral e o cineclubismo, capaz de mobilizar uma comunidade inteira a discutir seus problemas e encontrar soluções de forma divertida ou tocante. Sem isso, seremos sempre uma sociedade individualista, deprimida, queixosa, submissa, conformista. Não por acaso, dizia Gandhi que “a arte da vida consiste em fazer da vida uma obra de arte”. Todos podemos tentar.
José Avelange Oliveira, licenciado em Letras pela Universidade Estadual da Bahia, pós-graduado em Psicopedagogia Institucional pela Universidade Cândido Mendes.