Somente uma imprensa partidária como a brasileira seria capaz de selecionar o que publica; sendo como ela um braço estendido da oposição, qualquer órgão de comunicação se comportaria de maneira vergonhosa em busca da defesa dos seus interesses e nunca dos interesses nacionais. O Brasil assiste a vexatória condição dos setoristas nos jornais e revistas brasileiros. Eles não obedecem à ética jornalística, mas sobrepõem a lisura do ofício aos desmandos de suas redações. E como bem diz Mino Carta, os jornalistas brasileiros acabam sendo pior do que os seus patrões.
A revista ‘Veja’ é um caso sintomático de jornalismo às avessas. No mês de agosto, os jornalistas Thiago Prado e Leslie Leitão assinaram matéria em que confirmavam a existência de uma conta na Suíça em nome do senador Romário Faria (PSB-RJ). Apresentaram uma reprodução do extrato desta conta que, segundo eles, não havia sido declarada ao Fisco. Tão logo soube do ocorrido, Romário viajou à cidade de Genebra e provou que não havia conta alguma em seu nome. A ‘Veja’ se esmerou em desculpas, mas acabou demonstrando sua inclinação a fatos não comprováveis.
Mantenedora de similares estratagemas é a revista ‘Época’, das Organizações Globo. Diego Escosteguy, editor-chefe da revista, foi obrigado a pedir desculpas ao então presidente do STF, Joaquim Barbosa por publicar matéria com citações jamais proferidas pelo ministro. Escosteguy, não é de se admirar, foi contratado junto à ‘Veja’, o que define o caráter de sua ascensão na ‘Época’. Panfletárias, não se pode definir qual das duas revistas exerce o jornalismo mais combalido. De algum modo, estas publicações refletem a sinuosidade de caráter da imprensa. A potencialidade ideológica das empresas de comunicação não é mais segredo para ninguém.
Quando se fala em princípios editoriais, como aquele frequentemente citado pelas Organizações Globo, tem-se a impressão de que eles servem somente para lembrar aos consumidores de notícias que existe uma pauta ética nas redações; serve para impor aos leitores, telespectadores e ouvintes uma referência moral firmada como estatuto. Tudo isso, entretanto, diverge dos reais interesses das empresas de comunicação. Quando se fala que a imprensa representa o quarto poder da República, não há mensuração correta das relações ela e as forças políticas. No jogo que se apresenta, a imprensa tem ditado, à revelia da democracia, os rumos do país.
Esta influência nefasta tem, por exemplo, ditado os níveis da crise política; a imprensa não se condói com a situação política; se fosse possível atirar todos os poderes da República um contra o outro, ela o faria para gerar manchetes espetaculares. A Operação Lava Jato se tornou objeto político para criminalizar o PT e reabastecer a imprensa com notícias, ora verídicas, ora vazadas, e muitas vezes forjadas. O espetáculo da prisão da cunhada de João Vaccari Neto foi deplorável. Mesmo que o erro tenha partido da Polícia Federal, a imprensa deveria se pautar pelos tais “princípios editoriais”. O que se viu e vê é uma distribuição diária de anátemas e assassinatos de dignidade promovidos pelos grupos de comunicação do país.
Tão assombroso é o poder da imprensa que os coronéis midiáticos não querem alterar a legislação sobre regulação da mídia. É somente nestes momentos que os donos de empresas de comunicação se lembram da palavra censura para referendar seu discurso infundado. Um atraso epocal nos coloca diante de erros grotescos como estes citados anteriormente. A democracia anseia por uma imprensa responsável e que se comprometa com a verdade. Passa longe disso a imprensa brasileira, toda ela viciada, vinculada a ideologias políticas nunca aclaradas. O cenário é extremamente nocivo quando os próprios grupos de comunicação pregam falsamente a ideia de “liberdade de pensamento”.
Entretanto, é possível afirmar que a internet e a diversidade de ideias proposta por ela têm conduzido os brasileiros a uma nova experiência política; notícias pululam de diversos meios, em todos os dispositivos, conduzindo discussões políticas de todas as ideologias possíveis. Na internet é possível discordar, comentar, discutir e até mesmo participar da pauta. A mídia tradicional continuará perdendo para este modelo interativo proposto pela internet, sobretudo no que diz respeito às plataformas de discussão representadas pelos blogs. A imprensa oligárquica ainda domina o mercado da comunicação, mas não será por muito tempo.
Mailson Ramos é colunista do site Nossa Política.