Muita gente pensa que o ser humano é uma espécie que nasce pronta e acabada, necessitando apenas de algumas instruções, ou como se fosse um daqueles brinquedos falantes que vem programado de fábrica para fazer somente o que se quer. Não é assim.
Um ser humano são e capaz de se desenvolver adequadamente só existe se alguém lhe oferecer condições para isto. Querer, portanto, que crianças se tornem jovens e adultos exemplares, sem dar condições às suas famílias para amá-los na medida certa é como desejar colher flores ou frutos de uma planta que não foi regada, nem teve direito à luz do sol.
A ciência sabe e a experiência mostra que as figuras parentais são decisivas para o desenvolvimento das crianças, sejam elas propriamente exercidas pelos pais biológicos ou por quem quer que faça este papel.
Sabe-se que a função materna, por exemplo, é essencial para a criatura humana aprender a amar. Imagine então como fica a mente de um jovem ou adulto que, em vez de afeto dos pais, na infância, recebeu supetões, chega pra lá ou indiferença.
Muitos podem dizer que, na sua época, apanharam bastante e nem por isso se tornaram adultos maus e irresponsáveis, mas vai aí uma diferença. Em muitas famílias rústicas, as crianças apanhavam, mas ao mesmo tempo não tinham dúvida de que eram muito amadas e protegidas por seus pais. Agora não. A sensação de muitas crianças e adolescentes aparentemente é de que ninguém se importa com elas. Em muitos arranjos familiares da atualidade, a figura paterna não é uma referência de limite adequado, de segurança.
Como resultado de ações familiares bruscas ou omissões afetivas importantes, vemos escolas lotadas de alunos incapazes de cumprir orientações e muitas vezes até sem condição para distinguir entre o horário de aula e do intervalo, já que querem zoar os colegas o tempo inteiro e ainda assim exigem ao final de cada unidade e de cada ano letivo notas azuis, a serem obtidas por meio de avaliações pontuais, tradicionais, estáticas.
Estamos, portanto, diante de uma situação escandalosa que conta com a conivência de pais e de responsáveis, os quais primeiro não oferecem afeto e agora não conseguem ensinar limites.
Se acaso cidades em desenvolvimento, como as nossas, não começarem a refletir em torno de questões como esta, vão se tornar verdadeiras fábricas de gente medíocre, pessoas destinadas ao subemprego e à sub-existência, que servem de terreno fértil para a violência e outras mazelas sociais.
É hora lutar para que os arranjos familiares do semiárido possam lançar mão de atitudes mais reflexivas no lar. Afora isso, o que sobra são os discursos moralizantes que, no final das contas, surtem efeito contrário ao que se propõem.
José Avelange Oliveira, licenciado em Letras pela Universidade Estadual da Bahia, pós-graduado em Psicopedagogia Institucional pela Universidade Cândido Mendes.