Entrei, escolhi uma camionete bem decorada e pedi uma massa, que acredite, foi das melhores que já comi e olha que não sou muito adepto de macarrão, talharim e nem sopa de letrinhas. Mas estava tão bom que decidi fazer um elogio no Facebook e foi meu mal. Recebi recados e e-mails de tanta gente que pensei ter cometido uma heresia, mas explico o porquê.
Um dos missivistas se disse contrariado com a Prefeitura de Salvador, que não pergunta aos moradores se querem algum tipo de atividade no bairro e manda ver. “O prefeito não mora nas imediações e portanto acha que está agradando”, encerra o e-mail dona Samara Santos Leite, que mora na Vitória.
A questão é que o Boa Praça foi realizado sábado e domingo no antigo Galpão da Graça, uma área pertencente à família de banqueiros Cunha Guedes e que sempre é utilizada para eventos que um dos meus interlocutores disse ser “caça-níqueis”. E lembra que enquanto o Farol da Barra, depois de anos de luta dos moradores da área e imediações, se livrou dos eventos que aconteciam todos os finais de semana, de passeata de bancário, passando por movimento de ciclistas, discurso de políticos, lançamento de CDs de bandas de Axé e até eventos religiosos de todos os tipos (e ele lembra que teve até casamento na roça), “o município fica procurando onde atormentar a vida do povo. Pior é que a Associação de Moradores da Barra limita suas ações entre o Porto e o Farol, Afonso Celso e Marques de Caravelas”, observa o e-mail.
A questão é que os moradores de parte da Graça, da Vitória e da Ladeira da Barra e transversais, estão ressabiados com os problemas decorrentes do uso do terreno baldio da família Cunha Guedes, para eventos não tão nobres assim, como por exemplo, todos os anos servir como estacionamento para trio elétrico. E tome passagem de som, coisa que este ano não ocorreu porque os moradores saíram na frente e já foram denunciando o problema e apertando a Sucom. Tem sempre algo ocorrendo, como foi agora o Boa Praça em que durante dois dias os moradores – maior parte de idosos – passou dias com casas e apartamentos fechados, mesmo com o infernal calor que está fazendo na cidade, para diminuir o nauseante olor de azeite, óleo comestível e fritura conjugados que o vento espalhava. Sem falar que todos os dias teve aula em academia de ginástica improvisada e o povo já acordava pilhado. Teve também show de uma banda que deve ter tirado Djavan, Caetano, Chico, Fagner e até Igor Kannário do sério, de tão desafinada e fora do tom. É o que me diz um amigo do Facebook.
Pois é meu caro ACM Neto, meu querido Fernando Guerreiro, meu povo da Sucom, os moradores da Graça e da Ladeira da Barra querem sossego pelo menos nos finais de semana. Interessante é que – acredite – até o pessoal da Igreja da Vitória todos os anos dá sua contribuição ao desassossego dos moradores. Fazem a Feira da Fraternidade e tome som na caixa durante vários dias até depois da meia-noite. Nem adiantar apelar para Nossa Senhora. Interessante é que o terreno em questão, onde o diabo fica solto, já foi cogitado pelo então prefeito João Henrique, em se transformar numa praça para idosos e crianças. Virou um inferno.
Jolivaldo Freitas