Empresário bem-sucedido, sem experiência prévia em cargos eletivos, é candidato à Presidência dos Estados Unidos e acredita que sua habilidade no comando de empresas o qualifica para liderar o país.
A descrição se aplica não apenas ao bilionário-celebridade Donald Trump, que lidera as pesquisas de intenção de voto entre os pré-candidatos republicanos, mas também ao americano Rod Silva, de 43 anos, filho de imigrantes brasileiros que concorre à Casa Branca como independente.
Silva é uma das 1.528 pessoas que se inscreveram até o momento para disputar a Presidência dos Estados Unidos, segundo a Comissão Federal Eleitoral (FEC, na sigla em inglês).
O número, considerado recorde por analistas, ainda deve aumentar até a eleição, marcada para 8 de novembro e precedida pelas eleições primárias, que começam nesta segunda-feira para decidir os candidatos democrata e republicano.
“Em janeiro de 2012 (ano da eleição presidencial anterior), havia 332 inscritos para disputar a Presidência. Agora temos quase cinco vezes esse número. Isso é definitivamente algo novo no cenário político americano”, disse à BBC Brasil o cientista político Eric Ostermeier, criador do site de análise política Smart Politics, ligado à Universidade de Minnesota.
Campanha
Ao contrário de muitos desses candidatos, que se inscrevem por brincadeira e não fazem mais nada para avançar sua candidatura, a campanha de Silva é bem organizada, com um site e a ajuda de voluntários em vários Estados.
Fundador da cadeia de restaurantes de comida saudável Muscle Maker Grill, iniciada em 1995, ele criou o Nutrition Party (Partido da Nutrição) e concorre com uma plataforma focada em combater problemas como as crescentes taxas de obesidade, diabetes e colesterol na população americana.
“A principal questão (abordada pela candidatura) é tornar os Estados Unidos saudáveis novamente”, disse Silva à BBC Brasil.
Nascido em Newark, no Estado de Nova Jersey, casado e pai de dois filhos, Silva diz acreditar que liderar o país é como comandar uma empresa e compara sua trajetória ao “sonho americano”.
“Meu pai e minha mãe emigraram do Brasil (de Santos, em São Paulo). Sou a primeira geração nascida nos Estados Unidos. Comecei um pequeno negócio e transformei em uma cadeia nacional (de mais de 50 restaurantes)”, ressalta.
“Tenho experiência na área de saúde, em geração de empregos e em comandar uma empresa, e acho que isso me qualifica para passar ao próximo nível e liderar o país”, afirma Silva, que está financiando a própria campanha.
Facilidade
Nem todos os candidatos, porém, levam a disputa tão a sério. A facilidade de se inscrever para concorrer à Presidência atrai muita gente simplesmente em busca de atenção ou de uma brincadeira.
Para ser presidente, é preciso ser cidadão americano nascido nos Estados Unidos, ter no mínimo 35 anos de idade e ter vivido no país por pelo menos 14 anos.
“Mas qualquer um pode preencher o formulário da FEC, mesmo sem ser qualificado para concorrer”, esclarece Ostermeier.
O formulário, que pode ser preenchido online ou enviado por correio, pede apenas dados básicos, como nome, endereço e nome do comitê de campanha, e é automaticamente colocado no site da FEC, sem verificação da identidade ou qualificação dos candidatos.
“Com tantas notícias sobre esse fenômeno, mais e mais pessoas estão vendo como é fácil se candidatar, e algumas se tornaram quase celebridades com isso”, observa Ostermeier.
Fidel, Putin e Rocky Balboa
Neste ano, ao lado do favorito republicano Trump e de políticos tradicionais como Hillary Clinton e Jeb Bush, há uma profusão de candidatos que podem ser considerados exóticos.
Há um Fidel Castro, concorrendo pelo Partido Comunista e com endereço em Miami. E um Vladimir Putin, cujo comitê é listado como “eu andei a cavalo sem camisa”, referência a um dos hábitos do presidente russo. Um Rocky Balboa e um homônimo do capitão pirata Jack Sparrow também estão na lista.
Alguns costumam concorrer há anos. O pastor Terry Jones, da Flórida, que ganhou notoriedade em 2010 por planejar a queima de milhares de exemplares do Alcorão, o livro sagrado do islã, foi candidato em 2012 e concorre novamente neste ano.
Um candidato identificado como HRM (Sua Majestade Real) Caesar Saint Augustine de Buonaparte Emperor of the United States of Turtle Island, com endereço em Malibu, na Califórnia, concorre desde 1996.
Em agosto do ano passado, um adolescente de 15 anos que se inscreveu com o nome de “Deez Nuts” (termo que é título de uma música e costuma ser interpretado como referência aos genitais masculinos) ganhou manchetes na imprensa americana ao aparecer com quase 10% das intenções de voto nas pesquisas em alguns Estados.
Perfil
Em análises dos candidatos em 2012 e 2016, Ostermeier concluiu que a maioria é do sexo masculino, muitos já concorreram várias vezes e a maioria preenche o formulário a mão, o que, segundo o analista, “demonstra o nível de (falta) de seriedade das campanhas”.
Um maior número se identifica como republicano do que como democrata, mas grande parte concorre como independente ou por terceiros partidos.
“Acho que muitos se candidatam como piada, mas outros o fazem de maneira sincera, porque querem mudar o país, mesmo sabendo que não têm nenhuma chance”, afirma Ostermeier.
“Há uma crescente polarização na política americana e frustração tanto em relação aos dois principais partidos (Democrata e Republicano) quanto ao governo em geral, o que também pode estar colaborando para o aumento no número de candidatos”, observa.
Chance zero
Apesar da facilidade de preencher o formulário de candidatura, a FEC só considera um candidato oficialmente se ele arrecadar ou gastar pelo menos US$ 5 mil.
Além disso, ter seu nome inscrito nas cédulas de votação nos 50 Estados sem ser o candidato escolhido pelos democratas ou republicanos é historicamente difícil.
Desde 1856, não houve eleição presidencial em que a cédula tivesse mais de cinco nomes além do republicano e do democrata.
As regras dependem do Estado, mas em geral é preciso apresentar uma petição com um número mínimo de assinaturas de eleitores registrados, que pode ser de dezenas de milhares.
“Mesmo candidatos escolhidos por terceiros partidos consagrados, como o Libertário, em eleições passadas não conseguiram ter seu nome nas cédulas nos 50 Estados”, ressalta Ostermeier. “Para a grande maioria desses candidatos, a chance de ser eleito é zero.”
G1.com