Sérgio Moro chegou ao limite de suas prerrogativas, como juiz de primeira instância, e não satisfeito cruzou a barreira para invadir esfera jurídica pertencente apenas ao Superior Tribunal Federal (STF).
E andou forçadamente sobre uma trilha que nada tem a ver com juízes imparciais: divulgou o teor das conversas entre Dilma e Lula a quem – sem direito e fora do contexto as utilizou – para provocar uma convulsão social.
Nesta trama ardilosa Moro e TV Globo se confundem por suas posições partidárias porque ficou claro – e sem sombras de dúvidas – que a intenção é enfraquecer o governo e entregá-lo nas mãos dos seus mais ferrenhos detratores.
Moro, louvado nas manifestações do último domingo (13) e endeusado pela oposição, não respeitou sequer a condição de que, divulgando teor de conversas da presidenta da República, de um grampo instalado ao que parece no Palácio do Planalto, provocaria reações as mais odientas e conflitosas.
Bem dizia a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) que o mandado de condução coercitiva do ex-presidente Lula, aquele achincalhe circense espetacularizado pela mídia e refletido nas ruas em conflitos entre forças políticas era somente o começo. Mais irresponsabilidades estavam por ser cometidas.
Esta caça desenfreada a Lula e a ânsia pela destituição da presidenta Dilma são ataques certeiros às forças de esquerda, afinal de contas, o PT, mesmo com todos os seus defeitos e que não devem ser aqui suprimidos, ainda é o maior partido desta corrente política.
Acabar com o PT é instituir a polarização entre PMDB e PSDB. Retrocederíamos aos anos pós-redemocratização quando o PT, ainda pequeno, se via impossibilitado de lutar contra estas forças políticas conservadoras que jamais aceitaram perder o comando do país.
E são estas forças que agora apoiam o Sérgio Moro, ainda que alguns de seus apaniguados estejam enterrados até o pescoço na lama escorrida da Lava Jato. Caso os golpistas logrem derrubar a Dilma, Moro estará com seus dias contados. Não durará por muito tempo num eventual governo Temer.
Longe das conjecturas e pensando de modo imediato, Moro tem o apoio de uma massa que acha o considera intocável e por isso ele pode invadir esferas jurídicas restritas às suas atribuições. E se concordam com isso, estão indo de encontro à Constituição e à democracia. É um golpe urdido não mais na calada da noite, mas sobre os olhos de todos os brasileiros.
E desta feita está sendo televisionado. Transmitem-se flashes diários no Jornal Nacional, com um teor de reconstrução de contextos como nunca se viu no jornalismo. É produção massiva de sentido que busca sequestrar o entendimento do sujeito brasileiro e orientar suas percepções sobre uma realidade, em parte, construída.
Enquanto isso perambula pelos corredores do Congresso Nacional, gazeteiro, Eduardo Cunha. É incompreensível que para ver a Dilma cair, os brasileiros aceitem este achincalhe. Porque o Cunha nada mais é do que um achincalhe escancarado em nossas consciências. Ele é um chantagista de marca maior, fiel às suas manobras e perseverante em escapar da justiça.
Quando tudo isso passar, a Lava Jato terá cumprido o seu papel, mas a história cobrará muito caro ao Brasil e aos brasileiros a supressão econômica, social e jurídica de dois anos. Porque durante dois anos o país vegetou. É preciso lembrar que tudo começou com a eleição acirrada entre Dilma e Aécio. A oposição jamais aceitou a quarta derrota consecutiva e então partiu para o tudo ou nada, quanto pior melhor.
E querem tomar o poder à força. Está claro. Não se precisa de retórica ou subterfúgios linguísticos para dizer que é golpe. É golpe de Estado, ainda que não exista formado um núcleo de governo sucessório. E se o povo de verdade não for às ruas, se as ruas continuarem lotadas por estes grupos claramente classistas e bancados por sabe Deus quem, logo teremos uma estátua de Moro erguida em Brasília. Para delírio daqueles que o veem como herói. E o retrocesso? O retrocesso virá a cavalo.
Mailson Ramos é relações públicas e colunista do site Nossa Política.