Um protesto de estudantes da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/Ufba) impediu que o professor Fernando Conceição desse aula na instituição na manhã desta quarta-feira (9). Os alunos bloquearam a porta da sala de aula com cadeiras e mesas para impedir que o professor e outros estudantes passassem.
Conceição foi acusado de fazer comentários machistas e homofóbicos durante as aulas da disciplina Comunicação e Atualidade I. O caso foi denunciado em uma nota de repúdio enviada pelo Centro Acadêmico (CA) de Comunicação Social na segunda-feira (7), com assinaturas de alunos e movimentos estudantis.
Segundo estudantes da Facom, o professor chegou a perguntar: “Vocês não vão deixar eu dar aula não?”. Diante da negativa dos manifestantes, o professor se retirou.
Segundo os alunos, Fernando Conceição teria dito frases consideradas preconceituosas em sala, como “livro grosso serve para bater na namorada” e “machismo, racismo e homofobia são opiniões”. A nota de repúdio já foi assinada por 68 pessoas e 16 organizações de estudantes, inclusive de outras universidades, desde segunda.
O professor também divulgou uma nota, na qual nega as acusações. De acordo com Conceição, pelo menos 13 dos signatários não estão matriculados em nenhuma das duas turmas da disciplina neste semestre. Ele ainda questiona a orientação política das organizações estudantis. “Todas, dentro ou fora da Facom, são aparelhos de determinado partido político cujas principais lideranças estão investigadas na Operação Lava Jato”, escreve.
Segundo informações do estudante de produção cultural Mateus Costa, membro do CA, ninguém denunciou o professor formalmente na ouvidoria da Ufba, mas a nota de repúdio foi encaminhada para o órgão e para a direção da Facom. O diretor em exercício da faculdade, Fábio Sadao, se reuniu com os estudantes nesta manhã e informou que uma reunião extraordinária acontecerá na próxima segunda-feira (14) e que as aulas da disciplina estão suspensas até lá.
Será feita ainda uma votação para determinar se haverá ou não a sindicância investigativa em relação às acusações de assédio. Sadao disse ainda que considera o protesto um direito dos estudantes. Ainda segundo o diretor, os membros do CA não aceitaram debater o assunto com o professor pois querem levar o assunto para a plenária dos estudantes.
Através das redes sociais, o CA divulgou um questionário para que os alunos que desejarem fazer novas denúncias contra o professor. Ex-alunos de Conceição também usaram as redes para manifestar apoio à nota de repúdio.
Procurada pelo CORREIO, a reitoria da Ufba informou que cada faculdade tem autonomia para resolver questões internas e tomar as providências que julgar cabíveis.
Outro caso
As denúncias de machismo e homofobia contra professores na Ufba não são novidade. O professor Luiz Santiago de Assis, 64 anos, está afastado do Instituto de Física desde maio do ano passado, quando foi instaurado um processo para apuração de denúncias de alunas.
Uma queixa de assédio sexual foi protocolada por estudantes de diferentes semestres na ouvidoria da Ufba. No documento, as alunas relataram situações em que o professor fazia piadas de conotação sexual e tecia comentários sobre o corpo das mulheres em sala.
Segundo o vice-diretor do instituto, Alberto Brum, Santiago não ainda voltou a dar aulas. “Ele está liberado por esse semestre, enquanto o processo avança na Ufba”, informou o professor. O afastamento deveria durar 60 dias, mas a apuração do caso não foi finalizada.
Correio24H