Quando Edinelma Monteiro foi parar em um hospital municipal de Sergipe, gemendo de dor nas articulações, ela não conhecia a febre chikungunya. Nem ela nem grande parte do povo brasileiro.
Somente os médicos, diante do quadro da paciente e cientes desta doença também transmitida pelo Aedes aegypti, deram o diagnóstico, até então relativamente raro no País.
Era novembro de 2015. Edinelma, moradora de Itabaianinha, cidade de 45 mil habitantes onde ela nasceu, não só passou a conhecer a moléstia, mas também as suas sequelas.
Afinal, os sintomas da doença, como febre alta, moleza no corpo e inchaços, podem dar lugar à artrite crônica, segundo pesquisas do Hospital da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), em parceria com pesquisadores dos Estados Unidos.
— Cheguei ao hospital carregada pelo meu marido. Tudo foi ocorrendo em sequência. Estava na escola [ela é professora de educação infantil], preparando as atividades e percebi um inchaço nas pernas. Fui para casa e tive febre com moleza no corpo. Depois, vieram as dores nas articulações. É horrível.
A professora foi diagnosticada com chikungunya. Foi medicada e a virose passou em cerca de duas semanas. Acontece que as dores nas articulações permanecem. Recentemente, ela acordou com os pés inchados e fortes incômodos nas articulações.
— Só fico sem sentir dor se eu tomar remédio. Recentemente, acordei sem poder me vestir por causa da enorme dor. Dói até quando estou deitada.
Ela conta que os médicos disseram que isso perduraria por até um ano. Acontece que, segundo o reumatologista Morton Scheinberg, do Hospital Albert Einstein, e um dos organizadores da pesquisa na AACD, cerca de 50% dos pacientes que tiveram chikungunya passam a ter artrite crônica.
Scheinberg diz que, no geral, o paciente tem de ser tratado com os mesmos medicamentos direcionados à artrite reumatoide. Outra diferença da sequela em relação à zika, notada pelo médico, é que a artrite causada pela chikungunya ocorreu já nos tempos em que o vírus foi da África para o Caribe.
Há vários relatos em relação a isso, diferentemente do que ocorre em relação à microcefalia causada pelo zika, cuja incidência, até o momento, é muito mais restrita ao Brasil.
Scheinberg afirma que, apesar da comprovação da ação do vírus da chikungunya na artrite, falta saber o que causa a nova doença nas articulações. Ele conta que a equipe de pesquisadores está trabalhando em busca de tais respostas.
— Resta saber se a artrite crônica acontece por causa da presença do vírus na articulação ou devido à indução de uma resposta do sistema imunológico à presença desse vírus. Estamos avaliando com outros centros dos Estados Unidos e temos um projeto de pesquisa que vai ser aprovado. Deveremos ter a resposta (sobre a causa) daqui a um ano mais ou menos.
Enquanto isso, os pacientes brasileiros, de origem humilde e espalhados pelo interior do País, sofrem com epidemias em cidades com pouca infraestrutura, conforme conta Edinelma.
— Está havendo uma epidemia [de chikungunya] na minha cidade. As autoridades até tentam conscientizar a população sobre a importância do combate ao mosquito. Mas está difícil. Meu marido foi ao hospital na semana passada e constatou que pelo menos 100 pessoas estavam por lá se queixando de sintomas da doença.
Destes, conforme estudos da equipe de Scheinberg, cerca de 50 ficarão com artrite pelo resto da vida.
R7.com