Antes de qualquer impressão que você possa ter, ela dispara: “Eu sou muito espertinha”. E então você já pode entender um pouco quem é Luisa Hage Vieira, 5 anos. Desinibida, ela gosta de fazer mil perguntas, mas o seu talento ela revela com um pincel, que sustenta entre os dentes, já que ela não consegue mexer as articulações do corpo.
Com toda essa habilidade, ela escolhe a cor e mergulha o pincel no pote de tinta. Depois, começa a deslizar, com precisão sobre a tela, o pincel exatamente onde ela quer que aquela cor se encaixe com as outras.
Luísa já pintou mais de 100 telas desde que teve o primeiro encontro com a pintura, antes dos 2 anos. Todo acervo de Luisa estará exposto a partir do próximo dia 15, no Teatro Módulo. A exposição se chama “Luísa e a arte de vencer desafios” e será aberta às 16h.
Ela pode até parecer frágil, por causa da artrigripose que a impede de movimentar as articulações dos braços e das pernas, mas Luísa já deixou esse rótulo para trás. Cercada de suas telas, ela mostra quais gosta mais: Jardim de Borboletas, Formas Geométricas e Abstrato. “Eu gosto de pintar natureza, borboletas, abstrato, o sol, as árvores, as flores”, explica enquanto admira a própria arte.
A arte abstrata, como ela mesmo intitula, foi feita com a ajuda da avó. “Minha vó colocou as tintas para mim e depois eu passei com o rolo e ficou assim bonito. Aí depois tem o glitter também, porque eu gosto muito de ouro”, afirma.
As ideias para as telas de Luísa estão em todo lugar. “Em tudo que eu vejo e gosto, aí eu quero pintar”, explica. As borboletas que ilustram a maior parte de suas telas são vizinhas à sua escola. Até Bel Borba já serviu de inspiração para ela, quando viu a obra do artista em uma galeria no shopping. “Aí ela já chegou em casa querendo pintar”, conta Ivonete.
Ivonete conta que foi em uma sessão de terapia que Luísa descobriu a nova habilidade. “Deram pincéis e tintas para as crianças e ela gostou muito. A médica então me disse que eu deveria incentivar porque ela tinha uma habilidade que merceia ser desenvolvida. Aí comecei a comprar as tintas, dei muito hidrocor, e ela não parou mais”, lembra.
As primeiras telas eram sempre dadas de presente. “Todo aniversário que a gente ia, ela queria levar de presente para dar às pessoas. E todo mundo gostava. Aí me disseram que eu não deveria dar e sim vender, até mesmo para comprar mais material”, explica Ivonete.
Artrogripose é uma doença que provoca a rigidez nas articulações. A doença só foi descoberta após o nascimento de Luisa. Atualmente ela é acompanhada por uma equipe de especialistas e faz fisioterapia, pediatria e psicologia no Hospital Sarah.
Amizade
No ano passado, Luisa fez primeira mini-exposição na varanda de casa, na Boa Vista de São Caetano. Eram 40 quadros, que foram vendidos rapidamente. “Aqui encheu de gente e não tinha quadro suficiente para todo mundo. As pessoas tiveram que ficar vindo aos poucos para comprar depois”, completa a avó de Luisa, que parou de trabalhar com entrega de quentinhas para se dedicar exclusivamente com a neta.
Apesar da síndrome, a pequena tem uma rotina normal, vai à escola, brinca, dança, canta e faz planos sobre o futuro. “Agora eu quero ser atriz, cantar, e pintar também”, revela. Luísa também já quis ser professora de faculdade.
Em qualquer lugar que esteja, ela quer socializar. “Na escola, todo mundo quer ajudar ela a fazer alguma coisa. Na rua, ela faz amizade com qualquer pessoa. A agenda do meu celular já está cheia de tantos telefones que eu tenho que salvar das pessoas que gostam dela e querem manter contato”, conta Ivonete.
Foi assim que as duas conheceram a assistente social Monika Cunha, em um bailinho de Carnaval de shopping. “Começamos a conversar e Ivonete contou que Luisa pintava, e perguntou se eu poderia ajudar a divulgar esse trabalho. Aí ela me deu o número de celular e marquei uma visita. Passei uma manhã e uma tarde na casa dela, porque eu queria fazer uma matéria sobre Luisa, contando um pouco da vida delas”, lembra Monika, que é sócia do site Roteiro By Kids.
Monika teve a ideia de fazer uma exposição que pudesse ajudar a família. “Comecei a correr atrás de alguns lugares que pudesse receber a exposição, e encontrei o Módulo, que aceitou. Eu só quero poder ajudar mesmo”, diz.
O valor das telas ainda não foi definido, mas a expectativa é de que seja cobrado, em média R$ 50 por quadro. Todo valor será revertido para compra de materiais e equipamentos para Luisa. Veja o vídeo:
Correio24H