O Brasil recebe, de 05 a 21 de agosto, as Olimpíadas 2016. O maior espetáculo esportivo do planeta chega ao Brasil em momento de turbulência política e econômica, e não escapa da mancha da corrupção, que chegou também às obras olímpicas, sobre as quais pairam suspeitas de pagamento de propinas.
As críticas ao evento são justas e compreensíveis. Boa parte da população brasileira, não se conforma com o investimento bilionário no evento enquanto serviços básicos, como saúde, educação e segurança públicas, deixam a desejar. Mas apesar das justas críticas aos Jogos Olímpicos, não percamos a esperança na capacidade que o esporte tem de forjar valores, melhorar a qualidade de vida e atuar como ferramenta de inclusão social.
Todavia, há o risco de as medalhas, esconderem uma questão. Ainda não conseguimos entender o esporte como direito de todos, conforme explicitado na Constituição Federal, na Lei Pelé, nos Estatutos da Criança e do Adolescente, do Idoso e da Pessoa com Deficiência, entre outros textos legais. A alegria de sediar o maior evento esportivo do planeta não será suficiente para garantir oferta de espaços adequados para a prática de lazer.
É necessário superar desafios históricos para que o esporte contribua de fato com a transformação de nossa sociedade, pois as medalhas sozinhas podem fazer muito pouco. Precisamos repensar o papel das escolas e dos clubes na formação de praticantes, discutir a questão da participação de pessoas com deficiência e garantir que adultos e idosos também possam praticar esportes.
O dilema que enfrentamos é o seguinte: queremos ser um país que pratica esporte e que se apropria dos benefícios que ele oferece ou queremos ser um país que apenas usufrui de emocionantes imagens apresentadas na televisão e internet celebrando os poucos heróis esportivos que temos? O que queremos para o nosso futuro: praticar ou assistir?
Apreciemos com alegria, durante os jogos olímpicos os melhores atletas do mundo. Em primeiro lugar porque eles se preparam, por quase toda vida, com privações e sacrifícios, merecem admiração, respeito, aplausos. Depois, para que nosso apreço pelas Olimpíadas simbolize, também, nosso desejo de resgate dos nobres valores olímpicos. E que tais valores não se restrinjam ao Jogos, mas sejam vivenciados no cotidiano.
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito