Aluno do 3º ano do Colégio Vitória-Régia, Lucas Ian de Carvalho, 16 anos, quer que sua nota no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) fique bem acima do mínimo necessário para ingressar no curso de Engenharia da Computação na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Para isso, ele estuda, em média, três horas por dia, além das aulas na escola.
Tanto estudo é porque, entre os dez cursos com as maiores notas de corte – ou seja, as notas dos últimos convocados de cada lista – na universidade, os cinco que mais tiveram essa nota aumentada foram as Engenharias (desde que observados apenas os índices de ampla concorrência). E, dentre elas, a campeã foi justamente a Engenharia de Computação.
Em 2015, estudantes que fizeram o Enem com intenção de passar nesse curso na Ufba precisaram de pouco mais de 25 pontos para ser aprovados do que os candidatos de 2014, quando a instituição adotou o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) como único meio de ingresso. Para 2015, as notas passaram de 713,84 para 739,56.
“Eu tento não focar muito em nota de corte, porque estou sempre pensando em tirar notas altas. Reparei que a maioria (das notas de Engenharia) passa de 700 e algumas chegam perto de 800. Desejo pontuar de 800 para cima. Me preocupo mesmo é em tirar nota alta na minha prova”, conta ele, que ainda vai tentar o curso no Ifba.
Computação é seguida de perto por Elétrica, Mecânica, Civil e de Produção – todas com um aumento de pelo menos 13 pontos. A sexta colocada tem menos da metade no aumento: Direito diurno, com um crescimento de pouco mais de 5 pontos. Medicina, tradicionalmente o curso com a maior nota de corte, oscila pouco: passou de 777,7 em um ano para 779,05 no ano seguinte.
Explicação
“As Engenharias têm sido mais procuradas cada vez mais porque há uma qualidade nos cursos da Ufba, principalmente se compararmos com outras (instituições) da Bahia. E Engenharia tem atraído mais gente porque é uma área promissora”, opina o pró-reitor de Ensino de Graduação da Ufba, Penildon Silva Filho.
Para ele, a estabilidade de Medicina ajuda a entender o motivo da alta das Engenharias, aliado ao fato de que o Sisu permite a inscrição de candidatos de todo o Brasil. “Medicina é estável provavelmente porque já tem um tempo que as pessoas que fazem tinham costume de fazer vestibular em vários lugares do país. Isso era mais feito nos cursos de elite econômica, mais procurados. Agora, com o Sisu, todos os cursos podem ser disputados pelo Brasil todo e, como isso aumenta a concorrência, deve provocar um aumento das notas”.
Ele pondera, no entanto, que ainda não é possível chegar a uma conclusão quanto ao aumento pela procura nos cursos de Engenharia, já que a adesão ao Sisu ainda é recente na instituição – seria preciso analisar um período maior. Além disso, tanto o pró-reitor e o coordenador do colegiado do curso de Engenharia Elétrica na Escola Politécnica da Ufba, o professor Bernardo Orboñez, não veem uma mudança no perfil dos alunos que chegam à universidade, devido às notas mais altas.
Na avaliação de Orboñez, a universidade mudou com o Reuni (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, programa do governo federal instituído em 2007) e mudou para melhor. “Mas, se a gente pensar que o engenheiro é muito pragmático, as notas (no curso) se mantêm como sempre foram. Mas a cidade exige novas formas pedagógicas de validação, que nossos currículos têm uma dificuldade de atender às demandas. A gente (a instituição) tem que mudar e está fazendo isso, mas não vejo que nossa nota de corte é alta, os alunos são mais inteligentes. Não é por aí”.
Mesmo já estando no 4º semestre, o estudante de Engenharia Civil Matheus Kabib, 20, acompanha de perto esse crescimento das notas de corte – especialmente porque o irmão mais novo, que está no terceiro ano do ensino médio, também está enveredando para a área. “Gosto muito de acompanhar vestibular e meu irmão fica me pedindo ajuda, direcionamento para estudar”, explica.
Para Matheus, o nível da prova aumentou – o que explicaria a mudança nas notas. Contudo, para ele, não há motivo para desespero, devido à própria forma como a nota do Enem é calculada. “No meu ano, eu tinha certeza de que ia me dar mal em História e Geografia, porque ia mal nos simulados. Então, sempre falo para o meu irmão saber o que é bom para ele, para planejar o tempo dele na prova”, sugere.
Cursos de Exatas têm as maiores variações
Os cursos de Exatas continuam com as maiores variações nas notas de corte de outras universidades federais do estado. Nos campi da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) na Bahia, as Engenharias também se destacam. No caso da Mecânica, em Juazeiro, foram mais de 114 pontos exigidos do último candidato em 2016, comparado a 2015. Já em Civil e Elétrica, o crescimento foi de 40 pontos cada. Na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), o Bacharelado em Ciências Exatas e Tecnológicas também teve uma diferença de 104 pontos de 2014 para 2015.
Na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), a maior diferença, de 44 pontos, veio na área de Humanas: o mínimo para o curso de Direito em Juazeiro passou de 727,66 em 2015 para 771,89 em 2016.