Sabe aquele cara que se envolve com uma mulher muito rica e gostosíssima, mas perdulária e barraqueira? Com uma família barra pesada? Pois é: o dito sabe de tudo isto, mas por uma boa conta corrente e um belo par de coxas topa a parada. De repente a criatura engravida e aí o sujeito endoida: aquela não era a mãe que ele sonhou para os seus filhos.
Bem, felizmente o problema desse meu amigo não é conjugal, mas sua situação é bem parecida com aquela. O caso é que ele é Petista de carteirinha e gritou com todas as suas forças que Dilma foi vítima de um golpe. Agora está aí pelos quatro cantos com o discurso de que temos um Governo sem votos.
Minha vontade é lhe explicar que no Brasil há o princípio da unicidade das chapas majoritárias; que a gente vota no candidato e também no seu vice; que vice é pra substituir ou suceder o titular. Só que ele sabe que eu votei em Aécio e, por tabela, em Aloísio e então não vai sequer querer um bom dia meu. Já vai me receber com aquela coisa de golpista! Golpista, eu?
Lembro bem que lá por 2010 lhe questionei sobre esta aliança com o Temer. Ele então me deu uma aula sobre tática e estratégia política. Falou dos desafios para garantir a continuidade de um projeto que estava revolucionando o Brasil. Desfilou um rosário estatístico para tentar me convencer. Se não falha a memória, acho até que, com uma ponta de ironia, citando Lenin, recordou-me as alianças outrora feitas pelo Partidão.
Retruquei alegando que os tempos eram outros. Mas ele então falou do quadro eleitoral e que o PT precisava do tempo do PMDB no rádio e na tv, de sua capilaridade orgânica e, com um leve riso, da grana das raposas. Mas, enquanto descia a saideira, tentou me tranquilizar, garantindo que não havia qualquer risco de retrocesso, pois eles detinham o controle hegemônico da marcha.
É…. só que faltou combinar alguma coisa com os russos. A Doutora não tinha jeito pra coisa e o resto todo mundo sabe. E agora esse meu grande amigo está aí com esta conversa de Governo sem voto.
Realmente Temer governa sem o meu voto. Mas aqueles mais de 54 milhões de votos de que tanto falam só foram para Dilma? A chapa não era Dilma e Temer? Nos santinhos(?!), nos adesivos de carros, no rádio e na tv o que aparecia não era Dilma e Temer? Acaso naquele cesto de votos não tinha unzinho só pemedebista? Nem do próprio Temer? Se os petistas são mais de 54 milhões, então pra que aquela aliança?
No meu tempo dizia-se que Freud explica. Como não dá para impor ao meu amigo uma autocrítica sobre as escolhas erráticas dos seus companheiros na economia e na política, sobre a corrupção que eles tanto denunciavam nos outros, então até entendo a retórica esquizofrênica do golpe.
O que não aceito calado é eles quererem alterar a verdade nua e crua sobre quem em duas vezes colocou Temer no Poder. Sim: duas vezes! Uma quando elegeu e depois reelegeu como Vice-Presidente e a outra quando desgovernou o País.
Na guerra a primeira vítima é a verdade (Boake Carter). Como é próprio do fascismo negá-la, subjugar as regras do jogo político, a intolerância com o contraditório, a cultura do hegemonismo, acabo concluindo que quem precisa de ajuda sou eu. Será que tenho um amigo fascista?
MARIO LIMA
ADVOGADO E PROCURADOR DO ESTADO DA BAHIA