Escrevo estas mal traçadas linhas no dia em que a Constituição completa 28 anos. Gostaria de conversar sobre seu aniversário e o resultado das últimas eleições País afora. Mas as pessoas que encontrei agora cedo na padaria nem se lembram da Carta Cidadã e aquelas que comentaram a votação estão mais focadas na campanha do Doido e na vitória de Igor Canário.
Bem, sem me arvorar a cientista político e certo que receberei alguma pedrada, digo que não embarco nesta de que a eleição de Canário foi uma manifestação do gueto. Quem lhe elegeu também já votou em Leocrete, Tiririca e em tantos outros, cujas candidaturas têm um forte viés oportunista. Sim senhor, aproveitam o desgaste do “político” tradicional e se apresentam ao eleitor como a gracinha da vez, sem qualquer compromisso mais consistente com o segmento de que, em tese, provém. Mas não é disso que vou falar. Aproveito este espaço para dizer de uma falta que sentir depois que as urnas foram abertas.
Em 2013, R$ 0.20 fizeram o asfalto rugir. Em 2014 tivemos um 2º turno presidencial bem polarizado. Em 2015, por conta de tanta corrupção, multidões foram às ruas diversas vezes e em diversas cidades e muitos panelaços não deixaram a Doutora ser ouvida. Consumado o impeachment, surge o discurso do golpe e tome mais queprequê.
Com tanta efervescência política assim, a Velhinha de Taubaté e o idiota do Eremildo imaginaram um Brasil politizado. Mas não foi isto o que as urnas de domingo revelaram. O que explica a vitória da abstenção e dos votos nulos em nove Capitais, dentre as quais S. Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, se justamente nestas ocorreram os maiores protestos de rua?
Conquanto reconheça o esgotamento das formas atuais de se fazer política, Já disse que não me encanto por movimentos horizontais. E a razão está aí. Aqueles indignados não abandonaram apenas as ruas e recolheram suas panelas. Não os acuso indistintamente de antipetismo, mas força é reconhecer que faltou algo mais em todo aquele movimento. E é justamente este algo mais que deixou de fazer a diferença nesta eleição.
Em uma rara, pero raza unanimidade, todas as análises do que ocorreu no domingo último indicam a decepção com a classe política como sua causa. Sim e daí, Cara Pálida? Quem cansa de uma roupa troca por outra; quem enjoa de feijão com arroz, pede macarrão. Então, por que os indignados, não satisfeitos de abandonar as ruas, também abdicaram do voto?
Nobres e preclaros abstêmios e anuladores de votos, o que lhes saturou não é a classe política, pois, em verdade lhes digo, políticos somos todos nós, ainda que como tal muitos não se assumam. O que realmente está em cheque, e não é de agora, é a própria democracia representativa. E o que lhes faltou nesta eleição e de há tempo lhes falta é um caminho.
Como comecei, termino esta prosa com a Constituição. Se bem olharem para ela, verão que ali se encontram diversos recursos para aumentar a participação popular nos destinos da nossa Mãe Gentil. Cito, por exemplo, a iniciativa popular de leis, com a qual poderíamos passar a limpo todo esse sistema político e eleitoral, inclusive para acabar com essa esquisitice de alguns se perpetuarem no poder, a ponto de se falar em uma classe política, afinal quem foi que disse que político é profissão? Pois é, o caminho está na Constituição, que é a própria política que alguns insistem em negar. E aí, cadê vocês?
MARIO LIMA
ADVOGADO E PROCURADOR DO ESTADO DA BAHIA