O carnaval começou com três dias de festa: domingo, segunda e terça. Depois, acrescentaram a sexta e o sábado. Mas ainda era pouco. E, em algumas cidades, invade a Quarta feira de Cinzas. Tudo isso sem falar nos dias pré-carnavalescos.
Houve um tempo em que os festejos do carnaval eram simples e puros. A “carne” embutida na palavra “carnaval” significava gente em volta da mesa, gente alegre celebrando a vida. A “festa da carne”, porém, perdeu a pureza, a simplicidade, tornou-se festa do prazer pelo prazer, dos excessos na bebida, na comida, do sexo sem amor.
Condenar o carnaval? De forma alguma. É bonito ver o povo em festa, nossa gente alegre, espantando a tristeza, esquecendo a dor, driblando o desemprego, a falta de moradia, de saúde, mudando de assunto para não lembrar que a economia globalizada, globalizou para milhões a angústia, e a pobreza. É bonito ver o povo globalizando alegria, canto e festa.
Não há porque condenar o carnaval. É preciso, porém, ter em mente e recusar o que fizeram do carnaval. Fugir do excesso em tudo, excesso que fere o corpo e a alma, que desonra a pessoa humana, que vai, na quarta-feira, ser lembrado com remorso, com boca amarga, com lágrimas, com um vazio sem remédio no coração.
Muitas pessoas vão cair na folia, de mãos dadas, numa grande e feliz ciranda nos sambódromos, nos salões e avenidas da cidade. Aproveitem! Outras, vão procurar a tranqüilidade do campo, com a família e os amigos. Boa idéia! Aproveitem! Alguns grupos vão fazer do carnaval uma festa religiosa, no silêncio e na oração, participando de retiros e encontros de louvor. Aproveitem!
Bom carnaval a todos os que celebrarão a festa da alegria, da comunhão, da paz, da vida! E lembrem-se! Na quarta-feira de Cinzas entramos em campanha da fraternidade, que neste ano tem com tema: “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida” e o lema: “Cultivar e guardar a Criação”.
O Carnaval pode ser aproveitado, portanto, como um tempo de festa e de alegria, sem exageros, sem abusos e sem dor de cabeça no dia seguinte. Qualquer um pode se alimentar bem, dançar, pular, gritar, mas sabendo que no dia seguinte a vida continua. Saúde jogada fora é vida a menos, pior ainda, quando ela não volta mais.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito