Tal qual favas contadas, a queda de Dilma Rousseff devolveria ao Brasil a normalidade econômica, uma antecipação premonitória da mídia brasileira e dos políticos da então oposição; bastaria o impedimento de um governo – e a instalação de outro com ideologias e políticas contrárias – para vencer as amargas agruras de uma recessão renitente e cíclica; não seria necessário esperar o tempo da democracia e as eleições de 2018 para “salvar o país”. E foi através desta retórica que Michel Temer assumiu o poder.
Levado pelas conclamações da grande mídia e dos setores hegemônicos da sociedade contra o governo Dilma, o brasileiro mais simples aderiu ao discurso. Esteve pelo menos inerte quando deveria se mobilizar. Aceitou a ascensão de um núcleo político que estabeleceu duas metas primordiais: a primeira era se salvar da Operação Lava Jato, desintegrando-a através de decisões políticas; a segunda (em curso) é a destruição de políticas públicas, bem como a supressão de direitos sociais adquiridos nos últimos tempos.
O brasileiro assistiu e assiste impassível à execução das reformas genocidas de Michel Temer. Genocidas porque boa parte dos brasileiros não vai se aposentar com a reforma da Previdência; genocidas porque o trabalhado terceirizado será muito mais um escravo do que um trabalhador; genocidas porque durante vinte anos, Educação e Saúde terão os investimentos congelados; genocida porque não será dado ao estudante de graduação fazer intercâmbio pelo Ciência Sem Fronteiras, extinto nesta semana pelo ministro Mendonça Filho.
Idiotizado, o brasileiro apenas observa o réquiem de um país entregue ao capital estrangeiro, um arremedo de nação que se vangloria de entregar uma reserva do pré-sal (Campo do Xerelete) de graça a Total, uma petrolífera francesa. O resultado da comédia farsesca criada por Michel Temer, Eduardo Cunha e Aécio Neves é a construção de um Brasil que odeia o brasileiro. Um país cujos direitos civis e sociais jamais serão respeitados, exceto para imprimir um discurso de ludíbrio diante da mídia, aquela que só sabe reproduzir a reverberação da voz dos poderosos.
O brasileiro assistiu impassível à votação do impeachment na Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016, arrastado pelo levante dos cúmplices de Eduardo Cunha, corruptos de marca maior; foi o povo silencioso quando a classe média, a serviço da elite, decidiu que Dilma não deveria mais governar o país: e usaram de discursos misóginos, ofensivos, seletivos e odientos. A supressão da voz do povo brasileiro se deu quando, descrente da política por causa da massificação dos escândalos, ele reduziu o seu próprio espaço de mobilização, aderindo ao discurso de grupos historicamente favorecidos.
Da idiotização nasceu um torpor.
É o torpor que ainda impede os brasileiros de aderirem às manifestações contra esta máquina de triturar direitos que é o governo Temer. Edson Luiz Fachin, ministro do STF, acaba de indiciar 9 ministros de Temer, 29 senadores e 42 deputados, todos envolvidos na Lava Jato. E a solução era tirar a Dilma. Por quanto tempo mais o brasileiro terá de pagar por ter sido tão inerte.
Mailson Ramos é relações públicas e editor do site Nossa Política