Sou devoto de Santo Antônio, herança que minha mãe me deixou. Nos meus primeiros anos de padre, trabalhei numa paróquia dedicada a ele. Ficava impressionado com o número de pessoas que diariamente, faziam pedidos ao santo.
Entre tantas curiosidades que se via naquela igreja, destaco uma: Muitos devotos depositavam seus pedidos numa urna colocada diante da imagem do santo. Somente o padre abria urna. A princípio, imaginei que fosse apenas um formalidade devocional. Porém, diante de tantos bilhetes, clamores, cartas e fotografias, com pedidos e agradecimentos que eram colocados na urna e expressos em poucas palavras, não havia como ficar indiferente.
Nos bilhetes a Santo Antônio estavam homens e mulheres carregados de angústias, desesperos, doenças, ferimentos afetivos, pedidos de socorro em busca de trabalho e desabafos de quem não consegue ser ouvido por ninguém. Colocavam, nos recados, agradecimentos de quem conseguiu ser atendido, confissões mais secretas de quem suplica o perdão ou até mesmo pede justiça a quem lhe faz o mal.
Antônio tinha sempre um olhar atento ao Evangelho e a realidade humana. Ele, hoje nos convida a prestar atenção ao que o Papa Francisco pede: mais compreensão das situações humana e menos julgamentos; mais simplicidade no trato humano, mais saída do que fechamento; mais escuta do que conselhos; mais proximidade do que distanciamento; mais diálogo do que defesa da própria verdade; mais solidariedade do que indiferença.
Nas suas pregações, em igrejas e praças públicas, soube enfrentar com sabedoria os corruptos: Defendia os pobres que eram humilhados, explorados, especialmente pelos agiotas. Antonio possuía o dom das línguas, dos milagres, da bilocação, da profecia, entre outros. Popularmente, é invocado como o “santo casamenteiro”, em achar objetos perdidos; pelo pão de Santo Antônio, que é o Pão dos pobres e defensor dos endividados.
Santo Antônio, por que te procuram? Certamente, porque és um bom companheiro de viagem na caminhada humana; porque consegues mostrar o Cristo a todos; porque cultivaste tanta simplicidade e, ao mesmo tempo, tanta sabedoria; porque assimilaste a Boa Nova do Evangelho; porque revelaste quem é Jesus e como Ele caminha conosco todos os dias.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito