A mais aguardada sentença do juiz Sérgio Moro não chegou a causar surpresa entre aliados e adversários do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT). Mesmo assim, sua condenação a 9 anos e 6 meses de prisão, a primeira contra ele no âmbito da Lava Jato, provocou uma nova avalanche no cenário político, com impacto direto sobre os planos do petista para retomar o poder em meio ao cerco que enfrentará na Justiça a partir de agora.
Condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso referente ao triplex do Guarujá, no litoral paulista, Lula terá direito a recorrer em liberdade ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4). Em sua manifestação, Moro disse que caberia até decretar a prisão, mas a prudência, disse o juiz, recomenda que se aguarde o julgamento em segunda instância, onde o destino do petista será decidido.
Caso consiga reverter a decisão de Moro no TRF4, o ex-presidente, primeiro da história do país condenado por corrupção, escapará da cadeia e ficará livre para disputar as eleições de 2018. Do contrário, Lula poderá passar uma temporada na cadeia e será enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de condenados na esfera criminal por tribunais colegiados. Ou seja, em que a decisão é tomada por mais de um julgador.
No entanto, o TRF4 leva, em média, 18 meses para analisar sentenças de Moro na Lava Jato. Se a tendência se mantiver, Lula ganha margem para disputar a Presidência ano que vem. Acontece que, com a decisão de Moro, ele entrará na corrida com a pecha de corrupto estampada no figurino de líder popular carismático.
O emblema de corrupção, apontaram sucessivas pesquisas, é o elemento com a maior carga negativa na percepção do eleitorado sobre a classe política. Embora lidere as intenções de voto em recentes sondagens sobre o primeiro turno da sucessão, Lula tem um percentual próximo aos 35% – número historicamente conferido a ele antes de sua vitória em 2002 e que abriga o eleitorado fiel do PT.
Ao mesmo tempo, o ex-presidente também acumula os mais altos índices de rejeição – perto dos 50%. Para analistas políticos, a condenação pode potencializar esse nível ao longo dos meses, esvaziando a tática adotada pelos aliados do petista e intensificada ontem em declarações de parlamentares e dirigentes partidários. Em síntese, atribuir a Lula o papel de vítima de perseguição conduzida pela Lava Jato, com o patrocínio do empresariado e legendas rivais.
Diante dos efeitos da decisão, a cúpula do PT já estuda alternativas para a próxima disputa, embora Lula continue como plano A. Uma delas teria o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad na cabeça de chapa. A outra é abrir caminho para o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). Há ainda quem defenda que a sigla se afaste completamente da eleição de 2018, com objetivo de amplificar a estratégia de vitimização.
Fora o jogo de poder, a decisão contrária a Lula é apenas uma parte dos seus problemas judiciais. Ele ainda responde a mais uma ação da Lava Jato sob alçada de Moro e três na Justiça Federal de Brasília. As futuras decisões, caso imponham novos revezes, desencadeariam um efeito dominó sobre a imagem lapidada do ex-presidente-operário forjado na luta sindical.
No mesmo compasso, a derrota de Lula no caso do triplex causou ainda outros danos colaterais para o ex-presidente. Primeiro, fortalece a posição de adversários que temiam a súbita recuperação do rival a reboque das novas denúncias contra o governo Michel Temer, marcadas por prisões e inquéritos em curso.
Também ajuda a diluir o foco do noticiário sobre o processo enfrentado na Câmara dos Deputados pelo sucessor de Dilma Rousseff, inclusive na imprensa estrangeira, que deu destaque à condenação. Por fim, a sentença de Moro mostra que o mercado quer distância de Lula. Bastou a notícia correr o Brasil, o dólar caiu e a Bolsa subiu.