O ministro Admar Gonzaga, do Tribunal Superior Eleitoral, disse que seu voto no processo de cassação da chapa Dilma-Temer iria levar em conta se a vontade do eleitor foi ou não respeitada nas eleições presidenciais de 2014. Para Gonzaga, o tribunal não deve se achar poderoso a ponto de se sobrepor à vontade do eleitor.
Achei esta afirmação muito significativa para o atual momento brasileiro.
Afinal, onde fica a vontade do eleitor?
Todas as manchetes dos jornais nos últimos dois anos são esmagadoramente contra a Classe Politica. O que isto significa? Seria mesmo uma condenação antecipada? Está se fazendo justiça destituindo uma presidente legitimamente votada e eleita? O Brasil votou em Temer também? Os erros da esquerda transformam a direita em santa?
Bem, são assuntos importantes para serem discutidos.
Hoje, não sou mais um cidadão que tem preocupações sociais exclusivas com Conceição do Coité, meu domicilio eleitoral e de fato. Alex da Piatã, deputado estadual pela Bahia precisa e deve ter uma visão mais ampla sobre os problemas que assolam nosso país.
Então vamos por etapas:
Manchetes e matérias diárias em jornais induzem a um pré-julgamento?
Sim, eu acredito que a imprensa tem um poder muito grande nestas horas. Sabe-se que o brasileiro não tem costume de ler e desta forma estaria mais sujeito às influencias de grupos de mídia poderosos que detêm um maior controle em TVs, jornais e rádios.
O que este poder significa?
A repetição de denuncias todos os dias pela manhã, tarde e noite cria um estado de desconfiança que serve quase como uma lavagem cerebral. Existe uma distancia enorme entre a tentativa de explicar um processo numa matéria de 30 linhas de jornal ou revista, ou mesmo num jornal televisivo de 15 minutos e o que está nos autos. Para ter ideia, processos como o do Petrolão ou os da Lava-jato possuem milhares de páginas, centenas de envolvidos e dezenas de provas tanto de acusação quanto de defesa.
Estas matérias criariam um sentimento de condenação antecipada?
Sim, 90% das denuncias divulgadas pela imprensa têm como fonte figuras do Ministério Público, que nestes casos agem na acusação. Desta forma se desenha uma tendência da matéria pesar para o lado incriminatório.
Estaria se fazendo justiça destituindo uma presidente legitimamente votada e eleita no caso do impedimento de Dilma?
Definitivamente não. Existe uma confusão evidente sobre democracia neste caso. Nossa constituição deixa claro: os mecanismos jurídicos para casos de destituição de presidentes e figuras com foro privilegiado. Porém, a dinâmica para acionamento destes mecanismos é puramente política. Não se pode, por exemplo, de forma simplista dizer que a autorização de créditos suplementares para pagamentos de programas sociais são justificativas legais para a destituição de uma presidente. O correto seria a análise de toda a dinâmica operacional desta transação e discutir junto com os três poderes, formas de se impedir que a prática, caso seja considerada danosa, se repita.
O Brasil votou em Temer também?
Não para Presidente, Sim para Vice-Presidente e é ai que está uma prova clara da necessidade de uma reforma política no Brasil. Lógico que Temer foi vice da chapa de Dilma, tendo sido vistos abraçados durante toda a campanha 2014. Mas todos sabem que se tratou de um acordo de aliança pela governabilidade e não de uma aliança de ideais. Eu acredito que o Brasil somente avançará como nação valorosa quando princípios como o de lealdade, por exemplo, forem regras nas relações. E esta foi uma coisa completamente esquecida na expressiva e traidora votação do PMDB pelo impedimento da presidente.
Os erros da esquerda transformam a direita em santa?
Não. A Bahia e tantos outros Estados já deram a resposta sobre isto. Não esqueceremos o tempo dos coronéis. Agora se existiram erros da esquerda, e existiram muitos, estes por si só não transformarão antigos ditadores de direita em santos. Além disso, os repetidos métodos usados pela direita de tentar enganar o povo com presentes já estão manjados. Ninguém acredita mais e sabe das segundas intenções!
* Alex da Piatã, economista e empresário, é deputado estadual, filiado ao PSD, e presidente da Comissão da Saúde da Assembleia Legislativa da Bahia.