O encontro da Jornada Feminista do Território do Sisal aconteceu na FATRES, em Valente nos dias 03 e 04 de outubro com a presença de 50 mulheres rurais, a maior parte delas, noradoras dos municípios de Santaluz, Queimadas e Nordestina e são atendidas com Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), além de mulheres sindicalistas dos 16 sindicatos filiados à FATRES.
A proposta da Jornada, que teve início desde o mês de agosto é aprofundar o debate sobre as políticas públicas para as mulheres rurais e construir um espaço de reflexão para a proposição de processos de resistência ao desmonte que vem ocorrendo das políticas públicas para mulheres e de outras políticas sociais para o campo, essenciais para a garantia de direitos das minorias; oferecer subsídios para a elaboração de planos locais de políticas públicas para as mulheres (com recortes de raça/etnia, classe e orientação sexual), entendendo-os como estratégicos para a promoção e efetivação dos direitos das mulheres rurais em toda a sua diversidade social e política; fortalecer e ampliar a organização, mobilização e formação sindical e feminista das mulheres trabalhadoras rurais do território do Sisal.
Durante a Jornada as mulheres vivenciaram momentos de palestra, debates, rodas de diálogo e partilharam suas experiências nas comunidades onde vivem. O encontro contou com três palestras magnas, duas delas aconteceram no primeiro dia (03/10) – Mulher e Poder: caminhos para mudar o mundo – com o palestrante Danillo Carvalho, assessor jurídico da FATRES, e a palestra Violência de Gênero e caminhos para o enfrentamento com Ádila da Mata, da equipe de gênero do Movimento de Organização Comunitária (MOC).
“As mulheres alcançaram de tal forma o mercado sem abrir mão da jornada doméstica e os companheiros em sua maioria não assumiram essa responsabilidade de dividir, elas têm uma jornada de trabalho, uma jornada doméstica e muitas delas com filhos e ainda tem que cuidar de si, criamos jornadas extras de trabalho que tem resultado efeito sobretudo psicológico”. Ressaltou Danillo.
O segundo dia de Jornada teve a presença da representante da ONG Versos Mulher, Anamy Lemos, da presidente do Conselho Municipal de Direitos das Mulheres de Feira de Santana, Josailma Santos, do subcomandante da Polícia Militar de Valente, Alex Freitas e, do psicólogo e subtenente da Polícia Militar de Feira de Santana, Alfredo Moraes, que conduziu a terceira palestra, combate a Violência contra a Mulher. “É muito importante dentro de um coletivo social todas as discussões que possa empoderar não só as mulheres, mas sensibilizar aos homens dessa problemática que é uma problemática social, a violência contra a mulher, os homens precisam entender que estamos em pé de igualdade tanto em direitos quanto em deveres”, afirmou Alfredo.
A jornada foi um caminho de muito aprendizado para as mulheres que nunca tiveram participação em nenhum encontro fora dos seus municípios, como foi o caso de Dona Domingas de Abreu Silva, 57 anos, moradora da comunidade de Junco em Santaluz. Ela participou da jornada na companhia das duas filhas, Ronária Caroline, 20 anos e Romária Carine, 19.
Para Romária o encontro foi ótimo, “pude obter vários acontecimentos, hoje como jovem mulher eu já encontro desafios e vejo que mais adiante ainda tenho muito o que encarar, a jornada me ajudou a identificar as diferentes formas de violência e me chamou atenção as pequenas violências que muitas vezes a gente sofre e deixa passar porque é a raiz do machismo é tão cultural que a gente não encara como violência,” afirmou
Ronária está estudando para o vestibular e pretende cursar direito. A jovem afirmou que muitos assuntos vistos nos encontros e sobretudo na Jornada vão lhe ajudar nos estudos “inclui muitos temas que precisamos ter conhecimento de causa e formar a nossa opinião e contribuir para a transformação da realidade”.
Já dona Domingas que tem uma rotina no campo desenvolvendo as atividades junto com o esposo ficou encantada com a Jornada, ela que muitas vezes foi reprimida enfrentou dificuldades por querer desenvolver atividades na propriedade, sente que está no caminho certo, “antes eu não podia fazer nada, depois de uns dois anos pra cá, eu comecei a acessar o crédito rural de investir do meu jeito na minha propriedade, a foi maravilhosa, eu volto pra casa ainda mais fortalecida, agora estou poderosa”, comemora a agricultora.
Por: Camila Oliveira – ASCOM Fatres