Todos querem falar, mas poucos se dispõem a escutar. Isso acaba criando o “diálogo dos surdos”, onde todos gritam e ninguém ouve. O mais grave é quando esta incapacidade de escutar acontece entre os casais. A Associação Internacional da Escuta garante que a maioria dos casais tem, somente, poucos minutos diários de conversa significativa.
É muito importante saber ouvir as pessoas com tranqüilidade, sobretudo quando elas têm a nos relatar um fato ou experiência mais chocante. Com muita freqüência eu ouço jovens reclamando que não podem contar nada para o pai ou a mãe, porque eles ficam preocupados, nervosos ou agressivos. Certa ocasião um jovem me disse que namorava escondido, porque se falasse com a mãe ela iria ficar muito aflita ou até brigar.
Pessoas preocupadas ou medrosas costumam ficar mais calmas quando sabemos escutá-las com serenidade. A paz de quem ouve, acalma a quem fala. Podemos notar que determinadas pessoas somente se decidem a contar coisas mais sérias para nós quando sentem que podem dizer, seja lá o que for, que nós não nos assustaremos.
A palavra proferida, ouvida e acolhida tem valor medicinal. Ela envolve e cura. Isso quando há olho no olho. Entendem bem disso os namorados, que partilham, verbalizam, até os mínimos detalhes. Cada palavra é um tesouro escondido, que descobrimos ou não. Escutar de verdade é ouvir com o coração. Muitas pessoas ficam aliviadas em seus sofrimentos quando encontram alguém que as escutem. O fato de serem escutados é tudo.
O péssimo hábito de muito falar e pouco escutar afeta também o modo de rezar. Num palavreado artificial, decorado, tentamos dizer a Deus o que Ele deveria fazer. A Bíblia nos diz que o começo do encontro com Deus é a escuta: “Ouve, ó Israel, o que Deus vai falar” (Dt, 6,3) ou “Fala, Senhor, que teu servo escuta” (1 Sm 3) por isso rezar é sentir alegria do filho diante do Pai. E, rezar com a Bíblia é escutar o que Deus quer nos falar.
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito