Conceição do Coité (Ba) está vivendo dias de horror com a disputa entre facções pelo controle do tráfico e a hegemonia nos bairros da cidade. Nesta guerra insana, 6 pessoas foram assassinadas nos últimos dias e 2 jovens morreram em confronto com a polícia.
Por cada uma dessas mortes, morre também um pouco de mim!
Enquanto as mães, principalmente elas, choram a morte de seus filhos, outros divulgam fotos dos mortos em redes sociais e há até quem se sinta aliviado com essas mortes, pois defendem que “bandido bom é bandido morto”. Esta teoria, no entanto, não vale para os ladrões de colarinho branco, pois isso é problema da corrupção no país. Quanta hipocrisia!
Católicos e cristãos clamam por Deus e misericórdia em redes sociais e cobram por ações das autoridades, mas são incapazes de um único gesto para acolher crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade em bairros pobres. Pobre de Cristo! Penso até que ELE voltando um dia e sabendo do que se prega e faz em seu nome, dirá: “Eu, Cristo, não sou cristão”!
Como tenho dito, o problema da violência urbana é complexo e envolve desde a desigualdade social e falta de oportunidades sociais até a “guerra às drogas”, pois sem proibição não haveria o tráfico nos moldes atuais e a violência que lhe é inerente. Sendo assim, não se combate a violência urbana unicamente com prisões e condenações, pois a complexidade desse problema demanda ações e compromissos de diversos atores. Sobretudo, é uma tarefa da comunidade, sociedade civil organizada e poder público.
Para compreender esse problema da violência urbana, precisamos pensar, sinceramente, que por cada uma dessas mortes, morre também um pouco de cada um de nós! Só assim seremos capazes de compreender a causa dessas mortes e começar a nos importar com a juventude pobre, negra, periférica, sem escolaridade e sem profissão e que se ilude com a promessa de dinheiro fácil com o tráfico de drogas.
Não existe uma solução mágica para frear a violência urbana. Se assim fosse, cidades maiores e grandes capitais já teriam resolvido esse problema. Isto não significa, no entanto, que devemos nos acomodar e não procurar medidas e alternativas à esse modo de vida e de sociedade que estamos vivenciando. Eu estou à disposição da comunidade para discutir esse problema em associações, sindicatos, igrejas, escolas…
Por fim, precisamos pensar como o poeta Jonh Done: “Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
John Donne, Meditações VII.
Gerivaldo Neiva – Juiz de Direito da Comarca de Conceição do Coité, membro da Associação Juízes para a Democracia (AJD) e participante do movimento Law Enforcement Against Prohibition – Leap Brasil.