Um interiorano deslocou-se para a capital por compromissos profissionais. Resolvido o problema, teve de sujeitar-se a um longo período de espera na rodoviária. Para encher o tempo, entrou num majestoso templo, sem altar e no lugar dos tradicionais bancos, confortáveis poltronas. Calculou que o local poderia acolher, confortavelmente, mil pessoas.
O culto já estava em andamento e um pastor, terno e gravata, explicava à platéia que Deus tem riquezas infinitas e não precisa do nosso dinheiro, mas as obras de Deus, essas sim precisam. Ele esclareceu aos fiéis: de tudo o que vocês ganham 10% são de Deus. E provocava: vocês querem roubar dinheiro de Deus? Em seguida, quis testar o grupo: quem de vocês tem 100 reais para as obras de Deus? Um dos presentes levantou o braço. O pastor pediu que ele levasse a verdinha ao altar.
O pastor, mostrando –se bom estrategista, fez outra proposta: quem tem 50 reais para as obras de Deus? Alguns tinham. Ele continuou: quem tem 10 reais para as obras de Deus? Muitos tinham. Depois veio a cartada final: quem de vocês está guardando dinheiro para comprar remédios? E proclamou: dêem a Deus este dinheiro e Ele curará sem remédios.
O dinheiro tem a tendência de se tornar o valor absoluto, derivando para a ganância, a avareza e a injustiça. O sábio indiano Mathma Gandhi constatava: o mundo tem recursos suficientes para atender a todas as necessidades de todas as pessoas, mas não tem o suficiente para satisfazer a ganância de poucos.
E a religião dá muito dinheiro? Para os mal-intencionados, a boa fé das pessoas pode ser um grande campo de exploração. Se alguém funda uma “religião”, não significa que o faça em nome da fé, mas geralmente o faz movido por interesses imediatos seus. Nesse tipo de visão, a religião passa a ser um negócio que enriquece alguns e empobrece a tantos, enganados por milagres fáceis. Um homem de fé rezava: “Senhor, não te peço muito, mas dai-me apenas o suficiente e um coração agradecido.
+ Itamar Vian
Arcebispo Emérito