Passei o final de semana em Arembepe depois de muito tempo sem ir por lá e olha que a primeira vez que lá estive foi nos anos 1960 quando meu padrinho pegava seu fusquinha, colocava a gente, montava um embornal e viajávamos um tempão em estrada de barro e terra, para que ele comprasse peixe nas embarcações dos nativos, que chegavam de alto mar no final da tarde. Enquanto meu padrinho aguardava a vinda das velas no empuxo do vento brincávamos nas águas do canal e nos arrecifes que até hoje dão sua proteção contra a maré alta e os monções.
Adolescente, surfando a onda do movimento hippie, acampei com meus amigos na mesma década citada, numa Arembepe macia, sonolenta, contemplativa onde se ouvia o vento passando como se cortasse a palha do coqueiro e roçando de leve a areia solta das dunas amareladas. As lagoas formadas longe do rio serviam de belos cenários para os banhos noturnos sob a lua, vindos como no dia do nascimento.
Comia-se o que se pescava no rio: tainhas, enguias e baitas siris. O que se conseguia no mangue: caranguejos e outros crustáceos. Coco, caju, manga e mangaba a depender do período e os pescadores da pequena aldeia nas proximidades da igrejinha que ficava no meio da areia da praia sempre davam uma sobra de peixes pequenos que não serviam para vender para a capital ou para consumo próprio.
Arembepe atraia gente do mundo todo, principalmente depois que a revista Rolling Stones, a bíblia do Rock e da contracultura publicou que por lá estavam Mick Jaeger, Janis Joplin, Luiz Carlos Maciel, os meninos dos Mutantes, a galera dos Novos Baianos, filósofos de grandes universidades norte-americanas e gente de todas as bandeiras e pensamentos. Todos vindo fazer Arembepe. Ver os extraterrestres, a chegado dos discos-voadores pousando, descobrindo coisas mais que da vida nas experiências extra-sensoriais, as drogas como chás de cogumelo e maconha ou LSD e outros alucinógenos. De vez em quando a polícia aparecia para cortar os cabelões dos hippies e mandar tomar banho. A chegada dos primeiros veranistas nos anos 1970 expulsou a paz, os hippies e outros alternativos. Fez com que vestissem calções e as mulheres colocassem calcinhas e sutiãs.
Pois estive lá neste final de semana e Arembepe, como tudo nas vida, cresceu, expandiu, subiu morro, devastou Mata Atlântica, poluiu os lagos e rio e hoje é uma minicidadepertencente a Camaçari, com as atrações que ainda restam, como um arremedo da aldeia hippie, barcos de pesca que em nada lembram os saveiros ou os batelões. O peixe já chega vendido para os frigoríficos atravessadores. Nada se dá. Tudo se vende. Mas os mais velhos ainda dão bom dia.
E haja gente como nunca se viu num dia pleno de verão. E os carros fecham as ruas, engarrafam o trânsito; seus felizes proprietários ligam os “paredões” e disputam quem tem o som mais potente, o melhor gosto musical e as meninas requebram a bundinha até o chão e a cerveja rola de montão e fiqueifeliz em ver que os nativos recebem todos de braços abertos, se integram e caem na gandaia socializante.
Mas, virou uma terra de ninguém. Agora tem até uma boatecom moças que cobram. Tem também uma facção que conseguiu dizimar duas outras é quem manda – o chefe está na penitenciária, mas ainda manda em tudo – e obedece quem tem juízo. E quando a noite cai a festa continua. Continua tanto que da pousada de onde estava eu vi, na plena madrugada, um casal se descabelando em plena prática do amor se equilibrando no capô do carro, , enquanto da caixa de som o cantor gospel louvava Deus. Estava certo. Mas eu nunca tinha visto tal tipo de trilha musical para uma sacanagembem-feita e ardente.
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E sobre a Polícia Federal? Tem se parar com a espetacularização nas prisões. Sérgio Cabral é bandido? É! Mas algemas nos pés e nas mãos como se fosse Bin Laden redivivo? Tá demais.
E o Ministério do Trabalho? Será que Cristiane Brasil, filha do mensaleiroRoberto Jefferson não se tocou ainda que se não serve como patroa, não presta como ministra?
Tudo isso me diz: vivendo e aprendendo.
Escritor e jornalista: [email protected]