Recentemente o Acorda Cidade acompanhou o caso de uma mulher que, após tomar medicamentos para dor de dente por conta própria, passou a sentir fortes dores estomacais e precisou fazer uma cirurgia de emergência no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) por conta de uma úlcera perfurada. O episódio serve de alerta para os riscos da automedicação e o médico César Oliveira, em entrevista exclusiva, esclareceu mais detalhes sobre essa prática, riscos e os problemas de saúde mais frequentes que podem acontecer.
Segundo ele, os analgésicos, anti-inflamatórios e antitérmicos são as medicações mais usadas pela população. Antigamente, também havia a prática frequente do uso de antibióticos, mas com a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e as duas vias da receita médica controlada, essa situação diminuiu bastante. No entanto, ainda há algumas farmácias que continuam vendendo essas medicações, principalmente em cidades menores e do interior, sem receita. O médico salientou que a automedicação pode atrasar o diagnóstico médico, bem como mascarar os sintomas de algum problema de saúde.
“Normalmente retarda que seja feito um diagnóstico correto. Também há o risco dessas medicações, pois há um potencial lesivo muito grande e uma série de pessoas ,que não podem usar determinados remédios, normalmente acham, lembram ou sabem que o remédio funciona para aquilo, mas não sabem quais são as contra indicações daqueles remédios. Saber para que funciona é tão importante como saber em quem não pode ser usada determinada medicação. E normalmente as pessoas não sabem disso. Usam indiscriminadamente os remédios e aí aparecem as lesões”, explicou.
Problemas mais frequentes
De acordo com César Oliveira, a automedicação pode ocasionar problemas graves de saúde como as lesões hepáticas, estomacais e renais. O paciente pode inclusive chegar a ter uma lesão tão séria, a ponto de, por exemplo, perder o fígado.
“Podem causar a insuficiência hepática fulminante e o indivíduo perder o fígado absolutamente de forma total e de forma rápida. As lesões estomacais também são comuns. Alguns desses remédios, especialmente os anti-inflamatórios são muito agressivos para o estômago. Então pessoas que têm úlcera, que têm gastrite, têm dificuldades estomacais e estão com risco aumentado com o uso desses anti-inflamatórios. Uma lesão muito séria, frequente e muito perigosa é a lesão renal. Pacientes idosos, que têm algum grau de diminuição da função renal, pacientes que já têm problemas renais, com diabetes, jamais deveriam fazer uso de anti-inflamatórios sem orientação médica, porque eles correm o risco de perder completamente a função renal por um efeito desse remédio”, salientou.
O médico observou ainda que pacientes hipertensos também não deveriam usar anti-inflamatórios sem orientação. Porque os anti-inflamatórios aumentam a pressão arterial.
A polimedicação que é o uso de vários medicamentos ao mesmo tempo, sem prescrição médica, pode desencadear vários efeitos colaterais.
“Se você já tem um efeito colateral de um remédio, imagina esse remédio associado a dois ou três remédios em que, às vezes, um remédio anula o efeito do outro e potencializa excessivamente o efeito do outro. Mas, as combinações mais perigosas vêm da associação de um anti-inflamatório com um antibiótico, analgésico de famílias diferentes de forma inadequada e fazendo superdosagem. Às vezes, os remédios têm os mesmos grupos, as mesmas famílias contidas em remédios diferentes e quando há associações, as pessoas não sabem e usam aqueles dois remédios sem saber que têm dois remédios similares, iguais e portanto fazem uma superdosagem desses remédios. Há um risco realmente muito grande. Especialmente nessas associações de analgésicos, anti-inflamatórios e antibióticos”, informou César Oliveira.
Interrupção de medicação por conta própria
Assim como a automedicação pode trazer vários danos à saúde, o médico também observa que interromper medicações receitadas pelos médicos pode interferir seriamente em um tratamento, fazer com que uma doença fique mais resistente, mais grave e até mesmo desencadear outros sintomas e enfermidades.
“Pode acontecer aquilo que nós chamamos de subtratamento, ou seja, o remédio tem um tempo, a doença tem um tempo determinado para tratamento e aí quando o paciente começa a usar o remédio, começa a melhorar daquela doença, aí suspende o remédio antes do tempo previsto. O que acontece é que a doença tem um risco. Não fica tratada, com isso tem um risco dela voltar e voltar com uma intensidade mais grave. Com os antibióticos, há um problema muito grande porque à medida que a pessoa usa aquele antibiótico, tem em casa um antibiótico que conseguiu com o vizinho, aquele que comprou em uma farmácia do interior que não pediu uma receita controlada, o que acontece é que vai criando resistência ao antibiótico e nisso que vai criando resistência vai ficando cada vez mais difícil tratar aquela infecção, ou aquela bactéria”, acrescentou.
A cultura da automedicação
Sobre o hábito da automedicação, César Oliveira observou que essa é uma prática de pacientes do mundo inteiro. Não apenas de países com dificuldade de acesso à assistência médica e a saúde pública. Para ele, há uma facilitação pessoal e uma cultura dos pacientes de se autoprescreverem acharem que podem curar doenças sem necessitar de uma orientação médica.
Ele ressaltou que muitos medicamentos são vendidos sem a receita médica e essa facilidade, somada à cultura da automedicação é muito danosa à saúde, principalmente se as pessoas não tem uma responsabilidade em relação ao uso.
“Não existe de forma geral remédio inocente. Até o chás causam lesão de fígado. Suplementos alimentares e todas as drogas que nós usamos têm um risco potencial associado. A forma mais responsável de usar a medicação é usar sob orientação médica. É evitar a automedicação quando não se conhece a medicação e especialmente é muito importante evitar a automedicação se a pessoa já tem um problema de saúde, se já tem um comprometimento cardíaco, um comprometimento renal, um comprometimento do fígado. Essas medicações têm um risco muito maior do que têm quando não tem agravo nenhum de saúde. É importante ressaltar que as pessoas tenham consciência de que realmente há uma necessidade, uma orientação de alguém da área de saúde para fazer o uso de determinado remédio”, finalizou César Oliveira.
Acorda Cidade