O artista plástico Arnaldo Filho, conhecido como Nadinho, 61 anos, morreu após ser baleado durante uma ação da Polícia Militar dentro de sua casa, na noite de sábado (21), na cidade de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Segundo os familiares da vítima, policiais militares entraram e já chegaram atirando no homem, que estaria desarmado e desenhando.
“Os PMs estavam fazendo uma perseguição a assaltantes e entraram na casa do meu tio. Eles já entraram metendo o pé na porta e atirando. Não tinha nenhum bandido lá dentro. Ele é uma pessoa de bem. Morava sozinho dentro da casa e nunca foi envolvido com nenhum tipo de crime”, afirma Marcos Alves, sobrinho do artista plástico. “Na hora em que a polícia ia entrando, os vizinhos gritaram que ali era casa de morador, que não tinha nenhum bandido, mas, mesmo assim, entraram e mataram meu tio”, complementou o sobrinho.
Em nota, a PM afirmou que a morte aconteceu no bairro Santo Antônio, por volta das 20h, após equipe de militares da Operação Força Tática no município de Candeias receberem um chamado através do Centro Integrado de Comunicação (Cicom), informando que um homem havia invadido uma residência no bairro.
A PM informou que duas equipes estiveram envolvidas nessa ocorrência, cada uma composta por três policiais militares. “Entretanto, apenas uma estava no momento da abordagem do imóvel, a outra equipe chegou em apoio momentos depois”, destacou a corporação.
“Ao chegarem no endereço informado, as equipes policiais bateram à porta do imóvel e identificaram-se como policiais militares, contudo o homem que apareceu em uma das janelas recepcionou os policiais empunhando e apontando uma arma de fogo contra os integrantes das guarnições e, segundo o relato dos próprios policiais, teria acionado duas vezes a tecla do gatilho da arma, mas a munição teria falhado. Frente à iminente ameaça, os policiais alvejaram o homem com dois disparos, um atingiu o braço e outro, o tórax”, afirmou a PM, em nota.
A família nega que isso tenha ocorrido. “Eles entraram na casa e plantaram uma arma. Ainda disseram que meu tio tinha pólvora na mão, mas ele não atirou. Era um homem de bem que não tinha nenhum envolvimento. Ele morava nessa casa desde pequeno”, complementa o sobrinho que, junto à outros familiares, pretende denunciar a ação policial.
A PM informa que, após Arnaldo ser baleado pelos militares, ele chegou a ser levado para o Posto de Saúde da Cidade de Candeias, onde o médico plantonista atestou o óbito.
A paróquia Nossa Senhora das Candeias, em Candeias, através de mensagem no Facebook, também manifestou pesar pela morte do artista.
“É com muito pesar que informamos sobre a morte do nosso grande amigo e companheiro de comunidade Arnaldo Filho. A sua morte nos pegou de surpresa e o levou de nós repentinamente. Neste momento de dor e consternação, só nos cabe pedir a Deus e a Nossa Sra. Virgem dos Pobres que lhe ilumine e lhe dê paz, e que Deus dê conforto à sua família para que possam enfrentar esta imensurável dor com serenidade. Agradecemos imensamente o tempo que pudemos conviver com ele em comunidade, que será sempre lembrado pelo profissionalismo, honestidade, lealdade, inteligência, competência e sensibilidade para lidar com as adversidades e conflitos humanos. Devemos sempre lembrar que Deus quer ao seu lado os melhores, e com certeza o nosso amigo já está ao lado do Senhor cumprindo uma nova missão. Deixamos os nossos mais sinceros pêsames aos familiares e amigos”, postou. Arnaldo congregava na comunidade Virgem dos Pobres, em Candeias.
“A arma utilizada pelo homem e apreendida após a ocorrência era um revólver calibre 32 com seis cartuchos, sendo dois percutidos e não deflagrados e quatro intactos. A Corregedoria da PMBA esteve no local e lavrou o procedimento inicial baseado na versão dos integrantes das guarnições e já instaurou um Inquérito Policial Militar para colher outros elementos de prova para a elucidação técnica de toda a ocorrência. O prazo para a apuração do procedimento é de 40 dias prorrogáveis por mais 20”, destacou a PM.
A família tentou registrar a morte por meio de um boletim de ocorrência na delegacia, mas não conseguiu. O corpo do artista plástico foi levado para o Departamento de Polícia Técnica de Salvador (DPT), onde passou por perícia e foi enterrado às 15h deste domingo no cemitério municipal da cidade após realização de missa no Santuário de Nossa Senhora das Candeias.
Nadinho era conhecido pela cidade através de seu trabalho artístico. Na semana passada, inclusive, ele fez duas exposições na cidade. A Prefeitura de Candeias divulgou nota de pesar pela morte do artista.
“Nadinho teve sua vida interrompida de forma brusca, mas sua história não se apagará. Há pouco tempo, em uma bela exposição na praça, retratou através de suas mãos a história de nossa cidade”, diz a prefeitura, em nota.
O prefeito de Candeias, Dr. Pitagoras (PP), afirmou que marcará mais uma reunião com o comandante geral da Polícia Militar da Bahia, Coronel Anselmo, para tratar da violência. “Pediremos também às autoridades policiais uma investigação séria, justa e célere, para que a nossa cidade tenha a resposta para este fato tão lamentável que nos deixa tão abalados neste momento. Para a família, só podemos neste momento desejar o conforto da fé para enfrentarem esse momento tão difícil.”, afirmou o prefeito.
Fonte: Correio