Pela primeira vez em 16 anos de Mega-Sena, o sorteio teve uma combinação inédita de dezenas iniciadas pelo mesmo número: 5. O concurso número 2.052, realizado no sábado, premiou quatro apostas que cravaram a sequência 50-51-56-57-58-59. Cada um dos ganhadores, de Salvador (BA), Maranguape (CE), Marabá (PA) e Canoas (RS), levou R$ 9.627.559,21. O resultado inusitado impressionou apostadores que jogam na Mega-Sena e em outras loterias. Mas os matemáticos explicam que todas as combinações têm a mesma probabilidade: um acerto a cada 50 milhões de apostas.
Professor de física aposentado, José Roberto de Oliveira, de 65 anos, viu o resultado somente nesta segunda-feira, 25, na lotérica, quando questionado pela reportagem. Ele, que é filho de um ex-dono de lotérica, aposta em jogos há pelo menos 40 anos e diz ter ficado “admirado” com a combinação inédita.
“Nossa!”, soltou, ao ler a sequência numérica. “Isso é muito bom O acaso não tem lógica. É fascinante. O impossível é possível. Achava que era possível sair sequência, mas muito difícil. Isso prova que qualquer combinação é possível”. Oliveira, apostador semanal, diz já ter tentado até desvendar o “mistério” dos resultados. “Tentava ver resultados anteriores para saber se havia uma sequência, cheguei a estudar a Teoria dos Grandes Números. Mas finalmente entendi que é sorte mesmo.”
O resultado inédito também impressionou a diarista Maria Cavalcante, de 42 anos, que nos últimos dois anos se dedica a apostar em pelo menos um jogo da Mega-Sena toda semana. “Uau, é surpreendente! Nunca vi uma coisa dessas. Sempre aposto nos mesmos números. Prefiro os números baixos”, conta. A combinação de dezenas feita pela diarista é sempre a mesma: “Acredito em sequências, sim, e uso na minha combinação”.
Maria diz que, caso algum dia acerte uma sequência do jogo, espera que a sorte venha “para o bem” porque não quer desavenças familiares. “Só quero ganhar se for para ser feliz. Se for para atrapalhar, não quero. Todo mundo fica de olho. Tem essa coisa da inveja e da ambição. Quero ganhar para ajudar pessoas que vejo que estão precisando, principalmente da família.”
Já para o técnico administrativo Gerson Benedito da Silva, de 55 anos, a combinação inédita da Mega-Sena de sábado foi uma “trambicagem”. Embora seja crítico ao jogo, ele se justifica, afirmando que continua apostando por ser “esperançoso, fiel e sonhador, como todo brasileiro”.
A estratégia utilizada por Silva, que há 15 anos aposta em jogos, é simples: mescla datas, anos e números de apartamentos. Além disso, o técnico administrativo também admite ter uma “mania”: peregrina entre pelo menos três casas lotéricas, apostando em um jogo diferente em cada. “Tem essa crença de que se uma casa lotérica já teve vencedor, todos querem apostar nela, né?”, explica. “A gente ainda tem esperança”. Ele diz já ter vencido duas vezes em jogos com premiações mais baixas.
Quem também já deu sorte e ganhou aposta em loterias que pagam menos foi o desempregado Carlos Alberto Delfino, de 56 anos. Há quinze anos, ele só aposta nos mesmos números na Mega-Sena. A relação com os jogos, porém, começou quando ele tinha 14 anos. “É uma chance em 50 milhões. Eu sei disso. Tem gente que só joga números mais baixos, gente que prefere os números mais altos. Prefiro os números mais baixos”, afirma. “Jogo dois em sequência e o resto tudo é sorteado.”
O coordenador-geral de Matemática do curso e colégio Objetivo, Giuseppe Nobilioni, compara a chance de ganhar na Mega-Sena a uma caixa d’água de um metro cúbico. “Há por volta de 50 milhões de possibilidades”, diz ele. “Em vez de encher de água, você coloca grãos de arroz. Cabem aproximadamente 50 milhões de grãos de arroz em uma caixa d’água nessas dimensões. Pinte de verde um grão de arroz. Vamos imaginar que cada grãozinho de arroz seja os seis números que você apostou. Agora, tente encontrar esse grão verde. A chance é de um para 50 milhões.”
Segundo Nobilioni, qualquer número pode sair nas combinações. A dica do matemático é: dê sorte à sorte. “Sabe qual é a melhor forma de jogar na Mega-Sena? Chegue na lotérica e faça 10 jogos aleatoriamente. Pronto, não queira saber. Não adianta escolher. A chance é sempre a mesma.”
Estadão