Dias e horas empenhados em busca de um objetivo: ser aprovado no curso de Medicina. Para isso, muitas coisas ficaram para depois: festas, reuniões de amigos, viagens… O sonho começou a ser construído ainda cedo. Estudante de escola pública, filho de mãe dona de casa e pai autônomo, o feirense Lucas Lins sabia que para alcançar o objetivo ia ter que empenhar muito do seu tempo.
Para isso, contou com o apoio da escola, dos professores e com muita força de vontade. Chegava a estudar mais de 14 horas por dia. Na escola contava com livros e revistas da biblioteca. Tanta dedicação valeu muito a pena. Com apenas 20 anos, Lucas já foi aprovado em sete vestibulares em universidades públicas do Brasil. As aprovações começaram assim que terminou o ensinou médio. Ele poderia ter parado, mas tinha um sonho e precisava alcançar.
“Fui aprovado inicialmente em um bacharelado interdisciplinar em Energia e Sustentabilidade, depois em Química e Enfermagem. Em 2017, fui aprovado em Direito na Ufba (Universidade Federal do Estado da Bahia) e passei em primeiro lugar em Engenharia Florestal na USP (Universidade de São Paulo). Esse ano fui aprovado em Odontologia, recebi uma bolsa na Unifacs em Engenharia Elétrica e por fim meu grande objetivo, fui aprovado em Medicina na Uefs (Universidade Estadual de Feira de Santana)”.
Com a aprovação no curso mais concorrido da Uefs, Lucas viu todo o seu esforço ser transformado em realidade, mais do que isso, em satisfação e felicidade. Sensação de dever cumprido. Mas ele sabe que daqui pra frente serão novos anos de lutas e desafios. O sonho continua, porém ele sabe aonde chegou, aonde ainda pode chegar e o que é necessário para isso.
“Pretendo me dedicar ao máximo. Tenho que reconhecer o privilégio que é estudar em uma universidade pública e em um dos cursos mais concorridos. Tenho muito orgulho dessa conquista, pois a gente que sai de escola pública tem a ideia de que é uma escola inferior, de que a gente não tem condições para concorrer com estudantes de escola particular, mas isso não é verdade. Quando eu saí da escola pública, em 2015, já passei em três vestibulares. Sempre estudei muito e estava focado. Tinha uma pequena dificuldade em algumas matérias, mas batalhei. Esse ano estava mais tranquilo, estudava cerca de seis horas e dava uma pausa quando estava cansado. Tive que abrir mão de muita coisa. Lia muito, ficava cansado no final de semana, mas hoje nada disso foi sacrifício, já que conquistar o objetivo é muito bom”, afirmou.
O estudante também chegou a fazer cursinhos pré-vestibulares em alguns momentos da vida. Mas mesmo quando não estava nas aulas a disciplina fazia parte da sua rotina de estudos. Ele considera que estudar em escola pública não é um empecilho para chegar aonde se almeja.
“Estudar em escola pública não dificulta a entrada na universidade. Aqui tive professores excelentes e, além disso, tive muito incentivo, tive contato com livros e revistas, eu levava pra casa pra estudar e tudo isso me ajudou bastante na parte de história e também na redação, além da minha construção humana. Uma professora chegou a reclamar comigo quando tirei a nota sete em Matemática. Os professores incentivavam bastante”, destacou.
Diretora do Instituto de Educação Gastão Guimarães, onde Lucas Lins estudou durante alguns anos, Alfreda Xavier brinca que está mais feliz que o próprio estudante com a aprovação em Medicina. Para ela, ver alunos de escola pública alcançando sucesso no vestibular é a comprovação da boa educação e do desempenho dos professores.
“A gente fica muito feliz em ver um aluno de escola pública passar em Medicina ou em qualquer outro vestibular. Sabemos que a concorrência é grande. Isso prova que a escola pública ainda tem valor e também demonstra que nosso professor trabalha bem, busca ensinar a seus alunos aquilo que eles correm atrás. Somos aquilo que queremos ser. Às vezes, a gente tem uma escola de excelência, mas não queremos nada. Cada um tem que buscar seus sonhos”, frisou.
E foi isso que o estudante Lucas fez. Mesmo reconhecendo todas as dificuldades e problemas que as escolas públicas possuem, ele sabia que o resultado dependia mais dele do que de qualquer outra pessoa. Não desistiu e agora é exemplo pra quem sente as dificuldades e pensa não ser capaz. Hoje quem conhece a história de Lucas sabe que ele aprendeu mais do que a lição que é ensinada nas escolas, ele aprendeu uma lição para a vida.
“A gente tem que avaliar esse processo de sucateamento na educação e acredito que essa reforma no ensino médio vai dificultar bastante e aumentar a desigualdade educacional. Também tem a desvalorização do profissional e a falta de estrutura para que o aluno tenha um aprendizado eficiente. Os estudantes devem buscar para que o governo não deixe a educação de lado, devem buscar seus direitos. Nunca desistam dos seus sonhos, mesmo que seja difícil, se dediquem o máximo possível, só assim que a gente vai reduzir essa desigualdade social”, afirmou.
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