O golpe de 2016 fracassou miseravelmente. E com ele, todas as perspectivas da elite brasileira de tomar do povo o comando da nação. Os grupos hegemônicos que comandam a casa grande sofreram um revés histórico ao apoiar um golpe de estado insustentável.
Primeiro erraram na escolha do presidente ilegítimo que ocuparia o poder para estabelecer medidas de austeridade e promover reformas contra o povo. Michel Temer é uma nódoa que jamais será retirada dos brancos tecidos das cortinas da casa grande. Um traidor é sempre um traidor. O golpe nasceu com a marca da perfídia. O seu fim não poderia ser outro.
O golpe arregimentou uma quadrilha que se regozijava ao cortar direitos e pisotear na dignidade do povo brasileiro. Cooptados para fugir da justiça, muitos daqueles políticos foram a razão pela qual o ideal antipopular naufragou.
O resultado do golpismo foi o surgimento de candidaturas direitistas atrofiadas e distantes do povo. Elas serão rejeitadas nestas eleições de 2018, como será rechaçada a candidatura do protofascismo em pessoa.
Jair Bolsonaro é o resultado mais grotesco do golpe. A mídia e a elite fingem que não têm nada a ver com este Frankstein criado num guarda roupas da ditadura. Diria até que elas o abominam.
O candidato do golpe era o Geraldo Alckmin. Preferido pelo mercado, aliado de Temer, antipetista, privatista, um aliado das boas e más horas. Entretanto, Alckmin, que andava de mãos dadas com Temer, sentiu o bafejo do golpe e o prejuízo da proximidade com os golpistas, o que significa dizer que o Alckmin não tem espelho em casa.
O golpe fracassou desastrosamente quando Temer colocou em prática o plano de governo do PSDB. Entregou a Petrobras nas mãos de Pedro Parente sem imaginar que num futuro breve estaria às voltas montando um gabinete de crise para resolver uma paralisação nacional de caminhoneiros.
A elite que bateu panela das Varandas da casa grande levou sopapos diários ao abastecer os seus veículos com gasolina nos últimos dois anos. E a culpa era da Dilma. A elite brasileira teve que engolir Aécio Neves sem direito a remédio contra má digestão. O capitão do golpe se refugiou em Minas para tentar a eleição à Câmara dos Deputados.
O escondidinho mineiro é a face derrotada de quem capitaneou um golpe em busca de um poder que o povo lhe deu. Aécio ainda vai amargar terríveis derrotas, mas nenhuma delas será tão cruel quanto o fato de ele ter impregnado a sua imagem com ataque frontal à democracia.
A Lava Jato, sustentáculo jurídico do golpe, também entrou em falência. Ela alimentou os golpistas quando perseguiu apenas o PT, e depois foi sucateada, pelos próprios golpistas, quando outros partidos entraram na alça de mira da justiça. Cría cuervos y te sacarán los ojos.
Não era contra a corrupção. Jamais foi. A narrativa midiática entrou em desuso quando o povo soube que a corrupção estava lá, no subterrâneo do Palácio do Jaburu, quando Temer recebia Joesley Batista para tratar de assuntos espúrios.
A polarização ideológica é também um resultado negativo do golpe. Ela é a representação mais concreta da ruptura democrática e da quebra da institucionalidade. Da interferência do Judiciário no Executivo e no Legislativo. Da politização da justiça e da judicialização da política.
Em síntese, o país mergulhou de cabeça num golpe que desestabilizou as instituições públicas. O Brasil se tornou um pária internacional. E quem paga caro por isso é quem não tem dinheiro. O golpe foi contra o pobre. Foi pelo corte de milhões de famílias do Bolsa Família; reforma que deforma; austeridade para os desvalidos; negro na universidade nem pensar!
A antítese do golpe é a volta do povo ao poder, a nação comandada pelos desígnios da sua gente. Não é proibido refazer a utopia desde quando não seja proibido sonhar.
Mailson Ramos é relações públicas e editor do Nossa Política.