A Associação Brasileira de Transporte de Valores (ABTV), que representa 90% da atividade no Brasil, diz que o número de ataques a carros-fortes tem aumentado nos últimos 12 meses no país. Só este ano, foram 17 na Bahia.
A explicação dada por ele coincide com a análise feita por um dos funcionários do supermercado Extra em Salvador, onde um carro-forte foi atacado na tarde de terça-feira (2). Segundo o trabalhador, os assaltantes certamente já sabiam que uma das portas de acesso ao estabelecimento era mais deserta.
“Nessa atividade como a de hoje, percebe-se que os criminosos passaram a prestar mais atenção (no local). Eu diria que foi mais um crime de oportunismo”, completa Ruben Schechter.
Questionado se o aumento no número de ataques tem relação com medidas adotadas para combater outras modalidades de crime, como o ataque a caixas eletrônicos, Schechter negou. “Acredito que a migração das ações para carros-fortes se dá pelo fácil acesso a explosivos e pela eventual possibilidade de se ter uma maior rentabilidade. O caixa eletrônico tem uma pequena quantidade de dinheiro”.
Entre as medidas adotadas para combater os ataques, está o investimento em tecnologia e o treinamento dos vigilantes. “Infelizmente, em relação ao crime, nós estamos sempre um passo atrás, mas estamos atentos”, declarou.
Na semana passada, Schechter esteve em Salvador para uma reunião com o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, a fim de fazer algumas sugestões e pedir por apoio.
Um grupo de trabalho foi formado, contento membros das polícias Civil, Militar e Federal, além das empresas, para troca de informações. “O fluxo de informações já foi realizado e na semana passada teve a operação com uma grande quadrilha que já praticava crimes entre Pernambuco e Bahia”, contou. Ele se referiu à operação que terminou na morte de seis pessoas que tentaram roubar um avião que transportava valores, em Salgueiro (PE).
‘Fenômeno’
Professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o cientista social Luiz Cláudio Lourenço traduz a relação entre as práticas criminosas e a polícia como uma briga de ‘gato e rato’.
Segundo ele, os criminosos estão sempre em busca de uma forma de delito que não esteja visada pela polícia. Assim, quando o modelo começa a chamar a atenção e as vítimas passam a ter maior consciência de como se prevenir contra aquele tipo de crime, os bandidos encontram outras formas de agir e assim sucessivamente.
“Podemos interpretar que é, sim, um fenômeno [o número de ataques a carros-fortes]. Assim como já foi, por exemplo, os assaltos a bancos. As empresas investiram em segurança e aí começou uma onda de assaltos nas periferias das agências: nasceu a famosa saidinha bancária”, avalia Lourenço.
“Depois disso, vieram os diversos assaltos a caixas eletrônicos isolados, que gerou novos dispositivos como a mancha nas cédulas. Sempre fica nessa situação de gato e rato” – completa o professor.
Ainda não há um dado comparativo entre os estados brasileiros consolidado até o último mês de setembro. Mas, no primeiro semestre deste ano, a Bahia ocupou o segundo lugar no ranking de ataques no Brasil, com nove ocorrências – o mesmo número de registros no Ceará. O estado ficou atrás somente de São Paulo, com 10, e à frente de Pernambuco (7) e Paraná (6). Os números são da Associação Brasileira de Transporte de Valores (ABTV)
Em todo o ano de 2016, também de acordo com levantamento da Associação, a Bahia registrou oito ataques (ficou em 3º lugar, atrás de São Paulo e Pernambuco). Em 2017, foram 11 ataques, colocando a Bahia na 4ª posição do ranking.
O número de 17 ataques a carros-fortes na Bahia este ano é também contabilizado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-BA). No entanto, a pasta afirma que, destes, 11 foram consumados. No ataque de ontem, a pasta afirma que não foi levado dinheiro, embora testemunhas digam que um malote foi levado pelos criminosos.
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