A proposta do Governo Federal com auxilio da Secretária Estadual de Educação da Bahia – SEC pelo visto não tem sido uma boa alternativa para manter os alunos nas escolas durante dois turnos seguidos (manhã e tarde) , pelo menos em cidades do interior de pequeno e médio porte. Em Conceição do Coité com a população estimada em 68 mil habitantes o ensino integral chegou ao Colégio Olgarina Pitangueira Pinheiro, mas o que se viu foi o verdadeiro “êxodo” de alunos a partir de 2016 quando foi anunciado.
No ano passado o Colégio Olgarina após enviar carta, participar de reuniões com objetivo de mostrar a realidade com perda em massa de alunos para outras unidades, conseguiu retirar o ensino integral e recebeu da SEC de volta o ensino médio regular nos três turnos a partir de 11 de fevereiro com o inicio das aulas.
A diretoria do Olgarina respira aliviado, em contra-partida, a dor de cabeça agora ficou com o colégio Iêda Barradas Carneio no Bairro Açudinho, que segundo a direção desde segunda-feira, aparece no minimo 10 alunos do 1º ano do Ensino Médio pedido atestado de transferência por não aceitarem estudar de forma integral, fato que vem deixando a diretoria preocupada, pois, a escola funcionou com 5 turmas do 9º ano que poderiam se manter no mesmo colégio cursando o 1º ano (EM), mas com a implementação do ensino integral os diretores afirmam que da forma como vem ocorrendo o pedido de transferência, pode ficar em uma turma incompleta.
“Está longe da nossa realidade está ideia de ensino integral, a grande maioria dos alunos aproveitam um turno para o trabalho, outros nos afazeres domésticos, olhando irmão mais novo enquanto os pais trabalham, tem a questão do transporte e o mais importante, a falta de estrutura. Como pode chegar aqui agora na escola sem que tenha feito nenhuma melhoria para atender o ensino integral e deixa o aviso que a partir do ano que vem terá esse novo formato? A situação do Iêda é pior que do Olgarina, pois é menor e menos confortável, e a repercussão que não deu certo no Olgarina só desmotiva os alunos daqui”, disse um diretor.
Outra diretora disse que até poderia dar certo, caso os alunos estivessem na escola e vissem a transformação da escola, a implantação de uma estrutura atrativa para eles. mas chegam aqui e dizem que vai atender ensino integral a partir deste ano e temos que cumprir, nós até que cumprimos, é nossa obrigação, mas se os alunos ou os responsáveis chegam aqui e dizem que não querem, a gente tem que atender”, explicou a educadora.
Como se não bastasse a saída dos alunos do primeiro ano, repercute na cidade que a escola será fechada e diante disto aparecem também alunos do 9º ano, 2º e 3º querendo deixar a escola também.
O ano passado o Iêda Barradas contou com aproximadamente 600 alunos nos dois turnos (matutino e vespertino) do 8º ano do Fundamental II ao 3º do Ensino Médio, para este ano não terá o 8º ano que passa a ser responsabilidade do município, com a saída da grande maioria do primeiro ano, a escola estima perder entre 120 e 150 alunos.
Foi feita uma carta para a Secretaria de Educação com justificativas da inviabilidade do ensino integral. Leia abaixo
Conceição do Coité, 04 de dezembro de 2018
À SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO BAHIA
Ao Exmo. Sr.
Secretário de Educação do Estado da Bahia V. Ex.ª
O Colégio Estadual Iêda Barradas Carneiro, através de seu Colegiado Escolar juntamente com a comunidade adjacente, tendo em vista a proposta de implementação do Ensino de Tempo Integral para 2019, vem solicitar de V. Ex.ª que reconsidere a decisão, visto que a mesma não foi aceita por a comunidade escolar, conforme visto em
reunião.
O Colégio Iêda Barradas Carneiro, localizada no bairro Açudinho de Conceição do Coité, atende ………alunos. Deste contigente _______ da zona rural deste município, o que já tornaria inviável sua permanência o dia inteiro no colégio, pois não há transporte disponível,uma vez as escolas estaduais são parceiras da esfera municipal para locomoção desses alunos e esta não tem como atender tal demanda.
Outro aspecto importante a ser considerado é que muitos dos alunos são peças importantes na dinâmica familiar, alguns porque já trabalham no turno oposto, outros
porque são o suporte de suas famílias no sentido de contribuir com a presença em casa para que os pais trabalhem.
Desse modo,os pais não expressaram interesse em manter os filhos na escola o dia inteiro, mas também não desejam matricular seus filhos nas outras escolas já que
dispõem de uma no bairro e isso encontra-se assegurado no ECA Art. 53 inciso V. A preocupação da direção, pais,professores e alunos é que diante da não aceitação da
comunidade haja uma considerável diminuição no número de matrícula para 2019 o que seria uma grande perda para a comunidade.
Sabe-se da importância dessa modalidade de ensino para o desenvolvimento integral do educando, no entanto, não se pode prescindir da voz da comunidade, maior interessada nesse processo e a quem se almeja atender. Além dos aspectos alegados, faz-se importante destacar a falta de infraestrutura para receber dignamente esses alunos.O colégio é um prédio construído há mais de 30 anos e não passa por uma reforma há muito tempo. Pintura gasta, salas quentes com vidros e portas quebrados, telhado com problemas, cozinha improvisada, banheiros insuficientes, sem chuveiros e armários.
Como promover um ensino de tempo integral de qualidade se o ensino regular já funciona com tantas dificuldades? Como desenvolver um ensino criativo, inclusivo,
participativo e em consonância com a realidade se a escola não dispõe de um laboratório de ciência, sala de informática, biblioteca com espaço adequado e acervo suficiente para estimular a leitura e à pesquisa? Enfim, muitos são os problemas que inviabilizam a implementação desse programa, embora tenhamos ciência do seu valor no processo educacional dos sujeitos.
É relevante destacar que no município de Conceição do Coité, o Colégio Olgarina, durante dois anos, ofereceu o ensino de tempo integral, porém por entender que não
atendeu às necessidades da comunidade, empreendeu um luta para revogá-lo. Vale ressaltar que referida escola, em termos de infraestrutura, é melhor aparelhada para
atender essa modalidade de ensino.
Em nome da comunidade manifestamos nossa preocupação. Não queremos que essa escola que há tanto tempo luta para se firmar como uma instituição que contribui para a
formação cidadã de nossos alunos corra o risco de fechar as suas portas e silenciar tantas vozes.
Contamos com apoio desta Secretaria para que junto ao MEC, defenda a nossa causa, pois queremos continuar nossa ação educacional nessa comunidade.
Nestes termos aguardamos deferimento
Atenciosamente
O que se observa é algo parecido com a ‘colocação da carroça na frente dos bois’, ou seja,