Nos últimos dois anos o Brasil e o mundo vêm acompanhando a dramática situação do povo da Venezuela, país que faz fronteira com o Brasil através do Estado de Roraima. A grande recessão, instabilidade política seguido de hiperinflação, desemprego, fome e violência provocou a saída de milhares de venezuelanos e a grande maioria procurou o Brasil como refúgio.
Entre os refugiados está o casal Daniel Ibarra 46 anos e Kairobis Lopez, 39, os filhos Kairin Puerta, 20, Estalin Ibarra, 08, e Dankairis Ibarra, 06, a senhora Elfrides Chacare, 67, mãe de Kairobis e Yei Fran Fernandes 21, namorado de Kairin que deixaram há nove meses a Cidade de Guayana no Estado Bolivar – Venezuela.
A família recebeu o Calila Noticias na casa onde está morando na cidade de Retirolândia na região sisaleira da Bahia, na noite desta terça-feira, 26, e relatou toda dificuldade que passou no país de origem e durante os nove meses que permaneceu em processo de interiorização em Boa Vista capital de Roraima.
A senhora Kairobis disse que a situação é muito grave no país e aumenta a cada dia, segundo ela a única solução seria a saída de Nicolás Maduro do poder: “O país falta tudo que é essencial, os trabalhadores não recebem, os desemprego é grande, falta alimentos nos mercados e quando são encontrados os valores são muito altos, não se compra o frango e o arroz, precisa fazer a escolha do que levar. Falta medicamento nos hospitais, meu pai fazia tratamento contra o câncer. Há sete meses parou a quimioterapia e acabou morrendo”, lamentou Kairobis.
Ela contou que chegou a Retirolândia há pouco mais de 3 meses com ajuda do Governo Federal (brasileiro) e a Organização das Nações Unidas (ONU) que estão mantendo contato com cidades brasileiras principalmente as empresas para garantirem emprego aos refugiados. Essa força tarefa humanitária também arcou com as despesas de passagens aéreas.
Kairobis por ter certificação no setor químico conseguiu um contrato de trabalho com duração de 3 meses na empresa Lunik em Retirolândia, que além de pagar o valor correspondente ao salário mínimo brasileiro também garantiu o pagamento de seu aluguel durante os 90 dias. A Lunik trabalha com a fabricação de produtos de limpeza.
Kairobis fez questão de mostrar os diplomas e certificados do que considera sua profissão de oficio, ou seja, professora com especialidades em atuação em sala com crianças autistas, síndrome de down, retardamento mental, deficit de aprendizado. Outro certificado que ela apresentou no seu país a torna habilitada para trabalhar como diretora de qualquer escola pública ou privada.
Segundo ela quando levava uma vida normal na Venezuela trabalhava os três turnos em escolas e universidade de domingo a domingo para receber o equivalente a um salário mínimo do Brasil. A professora está preocupada quanto ao seu futuro na empresa, pois praticamente já cumpriu os três meses e inclusive o último aluguel já foi pago por ela e gostaria muito de buscar algo que lhe desse estabilidade de emprego.
O esposo Daniel é técnico em refrigeração, mas ainda não conseguiu uma oportunidade e está prestando serviço numa oficina de moto na cidade. O genro Yei Fran agradece se for chamado por algum açougue, pois, segundo ele atuou em seu país como magarefe.
Kairobis lamentou bastante mesmo, ter deixado o país e levar consigo a filha Kairin, que estava cursando o segundo ano em Direito. Mas diante da dificuldade um cargo em alguma loja ou recepcionista seria uma boa alternativa de trabalho para ela.
Ajuda humanitária está acontecendo por parte de algumas pessoas de Retirolândia, que já doaram roupas e alimentos a família Ibarra.
Tem gente nova que se juntou à família
Chegou na segunda-feira, 25, a Retirolândia o Jackson Quilarte, 38 anos, que também graças a certificação no setor químico foi convidado para trabalhar na mesma empresa que está a Kairobis e segundo ele já chegou trabalhando. A grande tendência de profissionais no setor químico, é justamente pelo fato de a Venezuela se destacar como um dos maiores produtores de petróleo do mundo e também de gás natural. Ele disse que tem grande experiência como petroquímico e poderá contribuir com empresas de pequeno, médio e grande porte.
Jackson que em seu país se pronuncia (Yackson) é casado e está preocupado por ter deixado esposa e filhos. Disse que a fome é uma realidade no país, citou a situação do próprio pai que afirmou que era gordo e o deixou bastante magro.
A família está aceitando donativos e garantem que o maior desejo mesmo é conseguir empregos para que possam adquirir o alimento, roupa e pagar com tranquilidade o aluguel.
Redação CN