Certa feita, à bordo de um voo comercial, fui abordado por um dos comissários. Roboticamente simpático, queria saber se eu aceitaria biscoito. Interessado pela oferta, questionei quais sabores estavam à minha disposição. A resposta foi simples: doce ou salgado.
Em poucos segundos estava tudo resolvido. Prefiro salgado ao doce. Escolhi a opção que mais me apetecia. O comissário seguiu sua peregrinação pelo avião, oferecendo biscoito doce ou salgado. A objetividade daquela escolha, aliada à facilidade na tomada de decisão, me fez pensar um pouco no assunto. Até que ponto ter muitas opções é uma coisa boa?
A existência de vasto leque de alternativas, em qualquer situação da vida, é potencial causador de ansiedade. Dá uma agonia retada quando somos obrigados a decidir em meio a muitas opções. Não tem jeito, quando a gente escolhe um caminho, inevitavelmente outro deixa de existir. Isso causa ansiedade.
Situação rotineira, adequada para exemplificar, diz respeito à Netflix. Não foram poucas as vezes em que abri a locadora do terceiro milênio com a singela intenção de assistir um filme ou uma série. De repente, em meio a centenas das melhores produções da atualidade, não fui capaz de selecionar um título sequer. Para cada filme/ série que me parecia excelente, outras dez pareciam melhor. No fim, eu nunca assistia nada. Como eu queria que alguém escolhesse por mim.
E isso se repete em tanta coisa. Na pizzaria, diante de 60 sabores de pizza, sempre termino com a tradicional “portuguesa”. Na hora de ouvir música, na dúvida sobre qual álbum ouvir, nada melhor do que uma playlist das melhores no aleatório. No cinema, é mais garantido apostar em Vingadores do que nos outros 7 filmes que você não sabe do que se trata. Escolher cansa.
A verdade é que perdemos o foco quando temos muitas alternativas.
Em um mundo no qual as informações são ilimitadas para qualquer um que tenha um celular em mãos, manter a atenção em uma única ação tem se tornado algo extremamente complicado. O indivíduo contemporâneo vive passeando entre as abas do navegador de internet. Ao abrir o YouTube, dezenas de vídeos são executados simultaneamente. A paciência para ler um texto já não é a mesma quando se tem tantos outros para passar o olho – você leria a palavra “anticonstucionalissimamente” e perceberia que eu apaguei de propósito uma sílaba?
E é assim que a ansiedade toma conta. É tudo muito rápido. É tudo muito plural. A simplicidade dá lugar ao simplório. É melhor alguém escolher por nós. Quando nos damos por si, não sabemos nem o que estamos fazendo, nem o que devemos fazer. Paralisia. Ansiedade.
Em meio a tanta coisa, faz-se imprescindível adotar a política do lanche de avião. Biscoito doce ou salgado. Eliminar as distrações. Diminuir as alternativas. Focar no que essencial e ir até o final. É escolher o biscoito e degustá-lo por inteiro. Com isso você se torna proativo, assertivo e eficiente. Proativo porque toma a iniciativa de comer o biscoito. Assertivo porque define, com segurança, qual biscoito irá comer. Eficiente porque come o biscoito.
Então, dá próxima vez que você se deparar com múltiplas escolhas, faça o simples. Defina o que é doce e o que é salgado e vá em frente. Paralisar ante extenso cardápio só irá fazer sua fome aumentar. É preciso se alimentar, e para se alimentar, é preciso decidir.
Rafael Verdival – Advogado