A imprensa internacional sempre tratou Jair Bolsonaro como um extremista de direita (far-right, em inglês). No Brasil, a imprensa sofre ataques tanto do presidente quanto da milícia virtual apoia nas redes sociais. Mas procurou amenizar as definições e não considerar Bolsonaro um presidente de extrema-direita. Não é somente este o problema relacional entre Bolsonaro e jornalistas. Mas não se deve ignorar que o princípio de todo erro é não chamar uma coisa pelo seu nome.
Quando era natural nos jornais britânicos e americanos a definição de Bolsonaro como um candidato de extrema-direita, os grandes jornais brasileiros consideraram que o termo não se aplicava ao capitão reformado. Mesmo com o seu discurso de ódio contra adversários (como a promessa de fuzilar petistas no Acre) ou a de varrer opositores do país após a sua vitória, Bolsonaro passou incólume sob o crivo das redações.
Os editoriais dos grandes jornais do país em 7 de outubro de 2018 colocavam açúcar no candidato prestes a vencer as eleições. Não havia ali nenhuma crítica mais apurada ao estilo do militar que se notabilizou por apoiar a ditadura de 1964-1985, por sua homofobia, racismo, misoginia e xenofobia. Ninguém na grande imprensa questionou o fato de Bolsonaro ter chamado os imigrantes de “escória do mundo”.
O antipetismo arraigado na sociedade, mas também nas redações da imprensa tradicional, serviu como uma espécie de torpor para ignorar que Bolsonaro era o pior dos candidatos à presidência da República. Acreditou-se, nas rodas de comunicação, que, eleito, o candidato do PSL poderia mudar de estilo, sentir o peso do cargo, estabelecer em primeiro lugar as necessidades urgentes do país e não a luta ideológica de uma eleição que nunca acaba.
Mas Bolsonaro reage à imprensa como um fanfarrão. Contra ela diverge nas redes sociais e a todo o momento apela para a expressão fake news para dizer que há inverdades em reportagens, que deveriam voltar para a universidade, que vai cortar as verbas de publicidade de veículos, que a comunicação do governo será feita pelas novas mídias. Ameaça o tempo inteiro acreditando ser o Trump dos Trópicos, tentando encontrar a sua CNN, o seu desafeto.
A imprensa tradicional ignora que também ela tem culpa pela criação deste caos. A sua narrativa criou a figura de Bolsonaro, um político rodado que se travestiu de novidade para prometer à população o que não poderia cumprir. Deram fôlego a um político inepto que, nos primeiros cinco meses de governo joga a toalha, afirmando que o país é ingovernável. É um agitador de quinta categoria. E nenhum poder no Brasil tinha a capacidade de desmascarar Bolsonaro como a imprensa antes das eleições. Permaneceram em silêncio.
A Câmara, o STF e a imprensa são os alvos favoritos do capitão e da sua trupe, que opera no lado obscuro da rede. No itinerário de ataques a adversários (aí ele não separa ninguém, pois todos os que com ele discordam são comunistas), Bolsonaro mira na credibilidade. Se a jornalista é da Folha de S.Paulo ou do jornal O Globo, e mesmo do Estadão, a resposta é sempre ácida, se vier.
A mídia tem culpa na criação de um presidente que diz o seguinte a uma jornalista: “Primeiro, você, da Folha de S.Paulo, tem que entrar de novo numa faculdade que presta e fazer um bom jornalismo. É isso que a Folha tem que fazer e não contratar qualquer uma ou qualquer um para ser jornalista, para ficar semeando a discórdia e perguntando besteira por aí e publicando coisas nojentas”.
Para Bolsonaro, críticas são “coisas nojentas”. E como a imprensa vai tratar um mandatário que não aceita críticas ou refuta informações verídicas? Ou ainda um presidente que rebate informações sobre decretos que ele mesmo assinou? O calvário da imprensa será suportar este estilo truculento e ignaro de governar. Não foi por falta de aviso. E todo mundo sabia quem era Jair Bolsonaro
Mailson Ramos é editor de nossapolitica.net.