A Europa tem milhões de pessoas vivendo em absoluta solidão. Aqui, no Brasil, não se conhecem estatísticas sobre isso. Mas, certamente, nossas cifras devem ser altas. Os solitários na sociedade de hoje, não contam no mapa da produtividade e da beleza. Pessoas que têm suas atividades físicas e energias limitadas.
OS SOLITÁRIOS são, em grande maioria, idosos. Isso acontece porque os filhos e netos moram longe, em outra cidade, e têm muita dificuldade financeira para visitá-los. Outra causa determinante da solidão dos idosos: crianças e jovens, hoje, passam mais tempo conectados do que conversando com os avós, pais e familiares.
UM GRANDE sofrimento para o idoso é sentir que está atrapalhando o final de semana, viagens e festas das famílias que preferem levar as crianças ao shopping, almoçar em restaurantes, ir à praia, mas deixam o velho em casa. E os amigos do ancião onde se encontram? Doentes ou mortos, boa parte. As aposentadorias, como sabemos, para a maioria dos brasileiros, mal dá para comprar comida e remédios. Assim, o idoso fica em casa porque não tem recursos para viajar e outras diversões sadias.
ALGUNS idosos (solitários) se apegam a animais e aves: papagaios, gatos, cachorros, etc. Quando morre um desses companheiros a dor é equivalente à perda de um parente. E a solidão se aprofunda. O idoso, isolado de qualquer relacionamento, não tem com quem falar, partilhar experiências e dividir a vida. Sente-se descartado por uma sociedade que não previu um lugar para ele e por uma família que, progressivamente, o abandona em casa, em asilos…
A SOLIDÃO é um grande mal de nossa sociedade. As maiores vítimas são os idosos. Ela pode acontecer em um quarto, ou também, manifestar-se em meio às multidões que passam e não vêem, não escutam e não se dão conta de que ali está alguém com sentimentos, desejos, um semelhante, uma pessoa humana. Somos seres necessitados de interação e de comunicação com o outro. Quando isso não acontece, a solidão acaba por matar-nos lentamente ou, até mesmo, levar ao suicídio.
PRECISAMOS ter um sincero interesse pelos idosos para que possam receber estima e apoio. Para tanto, é indispensável a afeição dos familiares. Nada conforta tanto o idoso quanto sentir-se amado em seu lar, útil e valorizado. Onde não for possível a presença na própria família, fica o apelo às comunidades e grupos para que acolham os idosos. É necessário oferecer-lhe atividades, lazer, atendimento geriátrico e, em particular, o afeto que merecem. O ideal é assegurar a cada idoso um ambiente semelhante ao próprio lar.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito
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