A estratégia de comunicação do presidente Jair Bolsonaro está na portaria do Alvorada. Nos últimos tempos, é daquele local que ele se pronuncia sobre assuntos diversos, decisões governamentais, acenos à sua base de apoio, e de onde ele dispara impropriedades que, em vez de causar rubor, são aplaudidas por quem o idolatra.
Foi naquele lugar que Bolsonaro expôs o seu desgaste com Luciano Bivar e a saída definitiva do PSL. Também foi dali que ele falou aos garimpeiros, defendeu a criação de gado bovino em reservas indígenas e ataca jornalistas que se esgueiram num espaço inapropriado para levar conteúdo aos seus públicos.
O séquito de aduladores que acompanha o presidente até na porta do Palácio Alvorada serve como uma espécie de auditório, de termômetro. Bolsonaro faz a declaração, é aplaudido e tem a certeza de que sua voz alcançará o público pretendido. Um grupo constante de apoiadores na porta do presidente todas as manhãs quando ele sai e todas as tardes quando ele volta deixa transparecer a ideia de um apoio infinito ao governo.
Quem lida com estas claques todos os dias também é a imprensa, que percebeu quem era Jair Bolsonaro no dia da sua posse. Naquela ocasião, jornalistas ficaram reduzidos em espaços inapropriados, vigiados por atiradores de elite e aconselhados a não fazer movimentos bruscos. Hoje não é diferente. Na portaria do Alvorada, a imprensa é vista como inimiga e está diante de apoiadores que têm humores voláteis.
Não se pode dizer que Jair Bolsonaro perdeu o decoro. Ele nunca o teve. Mas é naquele espaço, antes de entrar no palácio, que ele expõe o desequilíbrio e a incapacidade de governar um país como o Brasil. Não se trata apenas de não ‘ter papas na língua’. O presidente trata a comunicação como algo sem importância e acredita que pode conduzir o governo falando diretamente à população. O problema é que o seu discurso é direcionado para o seu seguidor fiel. Não alcança os pobres, os negros, os indígenas, os homossexuais, os deficientes físicos.
Diante dos seus sectários, Bolsonaro despe-se da dignidade de mandatário da nação e age com irresponsabilidade, ignorância, descortesia. Comunica-se aos trancos e barrancos, fugindo de regras e protocolos essenciais ao cargo. Deu vida à cruzada contra um socialismo que nunca existiu no Brasil. Para mobilizar as massas que o seguem cegamente definiu batalhas contra moinhos de vento que diz ser gigantes. Quisera ele ser Dom Quixote.
Bolsonaro é somente a marca de um período em que a política foi demonizada e destruída. A ideia de “nova era” insiste na construção de um ideário de político sem amarras, que se comunica com o povo sem a intermediação da mídia. Criou-se a ideia do mito que se notabiliza por dizer indecências, e por elas ser aplaudido. Em 2018 estabeleceu-se a regra do politicamente incorreto para permitir discursos de ódio, pró-ditadura, contra os direitos humanos.
A comunicação ineficaz é só mais um erro dos tantos que este governo cometeu e cometerá. Mas muito mais difícil será conviver com um presidente da República que não respeita ninguém. Que chama o educador Paulo Freire, que ele jamais leu, de “energúmeno”. É um tempo sombrio que parte daquela portaria palaciana para o mundo com sinais perigosos de beligerância e ataque a figuras internacionais como a ativista ambiental Greta Thunberg e o ator e também ativista Leonardo DiCaprio. Contradições que fazem pensar: de um palácio chamado Alvorada brota tanto ódio e obscurantismo.
*Mailson Ramos é relações públicas e editor do portal nossapolitica.net