Não é bom inventar doenças! Isso todos sabemos, mas não é tão estranha essa invenção indesejada. Há crianças que buscam atenção dos pais e dos adultos e, quando não conseguem, apelam por uma doença inventada. Não bastasse o lamento expresso em palavras, apela-se até para grito e o choro.
HOJE, apesar dos mais sofisticados avanços da ciência, particularmente da medicina, parecem aumentar assustadoramente as doenças que começam na dimensão espiritual e/ou psicológica. Dizem que estamos vivendo num mundo doente. Mas dentro deste universo de imensa riqueza e fragilidade, onde o tesouro da vida se vê envolto em vasos de barro, existe um imenso desejo de um mundo melhor. Qualificar a vida em todas as suas dimensões é assumi-la como dom e responsabilidade.
NINGUÉM gostaria de ser doente e nem ter doentes ao seu redor. Porém, diante de uma cultura que trata mal a vida, o sofrimento vai criando novas configurações e novos cenários. Todo o progresso é bem-vindo, porém, observa-se que os elementos mais primários da vida e da convivência, como a alegria, a cortesia, o respeito, a gratidão, o cuidado pela dignidade humana parecem estar relegados ao ridículo.
NÃO PODEMOS duvidar que o sofrimento constitui uma das experiências básicas da existência humana. Nascemos em meio à dor e morremos abraçados pelo sofrimento. Entre nascer e o morrer, há também uma trajetória de fragilidades que podem nos surpreender a qualquer momento. Tudo isso faz parte de nossa contingência humana.
GRAÇAS a Deus, hoje estão surgindo homens e mulheres com alto nível de sabedoria. Esses e essas procuram priorizar a medicina preventiva. Há, também, os “anjos da ciência”, que sabem valorizar a espiritualidade como fator de qualidade de vida e recurso para prevenir e curar doenças.
SOBRE o sofrimento e a doença, a angústia e a dor, multidões já se debruçaram para encontrar explicações, remédios e soluções. No entanto, o clamor por vida e saúde nunca parou e continua sempre mais intenso. O próprio Deus não teve outra resposta para o mistério, senão a de colocar-se ao nosso lado, assumindo nossa condição humana, nossas doenças e nossa morte. Com a chegada de Cristo, chegou o sentido de nosso viver, de nosso sofrer e de nosso morrer.
Dom Itamar Vian
Arcebispo Emérito