Agricultoras, presidentes de associações e cooperativas, professoras, mestras da cultura popular, gerente de banco, vereadora, prefeita e deputada estadual. A história do município de Pintadas no território da Bacia do Jacuípe não pode ser contada sem destacar o papel que as mulheres sempre desempenharam ao longo da sua história nos diversos espaços de poder e participação. Com o objetivo de desvelar o protagonismo e a resiliência que marca a vida delas, o projeto “Vozes das Mulheres” pretende romper com a invisibilidade e valorizar a contribuição de diversas personagens femininas no processo de desenvolvimento. A ação integra um programa da Plataforma de Mulheres de Base do Brasil, vinculada à organização Huairou Comission, com apoio da Agência Sueca de Cooperação para o Desenvolvimento Internacional (SIDA).
A iniciativa também busca despertar o senso crítico e incentivar a liderança de jovens, que são os protagonistas em todas etapas de reconstrução da memória, desde a produção, captação das entrevistas e a escrita dos textos. O processo foi iniciado há quatro meses e neste período foram ouvidas 17 mulheres de uma lista de cerca de 40 nomes. O material será transformado em diversos conteúdos que serão disponibilizados através de múltiplas plataformas.
Lívia Rufino, 19 anos, ressalta como a participação no projeto tem mudado a sua percepção sobre a história local e transformado sua vida. “Eu não conhecia as pessoas, a minha identidade, nem as lutas que nosso povo viveu. Estou aprendendo e me inspirando com tantas mulheres que a gente conversou. Antes, eu não sabia argumentar nem expor minhas ideias, estou aprendendo e me renovando”, afirma Lívia.
“Depois de descobrir tanta coisa sobre Pintadas, também desenvolvi meu lado intelectual e minha sensibilidade para tratar as pessoas, principalmente nesse momento da quarentena em que as pessoas estão esquecendo do outro”, destaca Maizy Rios, 18 anos. Ela afirma que o projeto despertou sua vontade de estudar e retornar para contribuir com o município.
“Estou entusiasmada e muito feliz pelo resultado que a gente tem conquistado de forma coletiva. Apesar de minha mãe ser militante do movimento social, agora é que eu estou conhecendo melhor a nossa história. Depois dessa experiência, consigo me enxergar ainda mais pintadense, amar mais minha cidade e valorizar a luta das mulheres que sempre foram deixadas à margem”, Elinne Coelho, 30 anos, coordenadora do coletivo.
O jovem Henrique Sampaio, 20 anos, e o fotógrafo Del Brandão também compõem a equipe e falam da alegria de conhecer a história do município e das mulheres que lutaram para conquistar seu lugar na sociedade. “Essa oportunidade incrível mudou a minha vida. Vou sair com um olhar totalmente diferente”, disse Henrique.
A professora e vereadora Neia Bastos, uma das articuladoras do programa, destaca a importância da história oral para a construção da memória e para a construção do olhar dos jovens. “Com certeza não está traduzido nos textos tudo que eles sentiram e viveram. Tenho certeza de que nada será como antes. Novos projetos e novos sonhos serão construídos”.
“Sempre sonhamos em envolver os jovens neste processo de conhecimento da nossa história, através de uma linguagem adequada, e de forma que eles pudessem ser agentes multiplicadores e transformadores. Agora que estamos conseguindo, pretendemos seguir adiante”, afirmou Nereide Segala, agricultora e uma das coordenadoras da Plataforma de Mulheres de Base do Brasil.
Plataforma de Mulheres de Base – é uma coalizão de movimentos de mulheres, vinculada à Huairou Comission, presente em mais de 50 países, que atua na perspectiva de fomentar e fortalecer estratégias coletivas de enfrentamento das desigualdades de gênero, promover o empoderamento e autonomia econômica das mulheres, a participação efetiva nos espaços de poder e decisão, o combate à violência doméstica a resiliência ambiental e da sustentabilidade no contexto das mudanças climáticas.
A Plataforma é articulada pela Rede Pintadas, entidade que também é gestora do Centro de Economia Solidária da Bacia do Jacuípe, e tem como organizações integrantes a Cooperativa Ser do Sertão, a Associação de Mulheres Pintadas (na Bahia), a Rede de Mulheres de Pombos (Pernambuco) e a União dos Movimentos de Moradia de São Paulo (São Paulo).
Por: Lourivânia Soares * Jornalista e Articuladora da Plataforma de Mulheres de Base do Brasil