O bebê que nasceu em Tubarão, no Sul de Santa Catarina, com anticorpos contra Sars-CoV-2, que causa a Covid-19, pode ser o primeiro caso registrado no Brasil, segundo especialistas. Enrico, de 40 dias, nasceu com os anticorpos após a mãe dele, que é médica e trabalha em um posto de saúde, ser vacinada com as duas doses da vacina CoronaVac.
De acordo com a diretora do Comitê de Imunização da Sociedade Brasileira de Infectologia, Rosana Richtmann, não há relatos semelhantes no país. Com as vacinas Pffizer ou de RNA mensageiro que foram mais utilizados nos Estados Unidos e em Israel há relatos e estudos internacionais sobre episódios de imunização através da placenta, mas não com a CoronaVac:
“Em relação a CoronaVac, é o primeiro evento, pelo menos que eu tenha notícia, principalmente aqui no Brasil. Então, é uma notícia muito boa. Nós estamos falando de uma vacina que está sendo bastante utilizada no nosso país”, explicou.
Enrico nasceu no dia 9 de abril e o teste que comprovou a presença de anticorpos foi realizado dois dias depois, sendo avaliado por diferentes médicos, incluindo o secretário municipal de saúde da cidade, o obstetra que acompanhou a criança, além da mãe de Enrico e dos profissionais do laboratório que fez o exame. O resultado mostrou 22% de anticorpos na amostra analisada.
Apesar da notícia promissora, para infectologistas pediátricos a mãe passar anticorpos para o filho não é surpresa, segundo Bárbara Simionato, pediatra que trabalha no Controle de Infecção de Infectologia Pediátrica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Ela diz que é comum esse comportamento quando grávidas são imunizadas, mas que em relação à Covid não há registros no país.
“Até o momento presente, é o primeiro caso registrado no Brasil de transmissão placentária de anticorpos contra o SARS-COV-2 em bebê de mãe vacinada”, afirma a pediatra.
Um artigo científico esta sendo elaborado no programa de Pós Graduação da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul) para documentar a descoberta e publicá-la.
“Ficamos felizes e emocionados e que sirva de incentivo à outras gestantes. É uma dose de esperança a todos”, afirma a mãe do bebê, Talita Mengali Izidoro, que também integra a equipe de pesquisa.
Bebê será monitorado
Segundo a especialista na área, é natural que as mães passem anticorpos para o bebê durante a gestação pela placenta. Esse fenômeno auxilia na imunidade de bebês nos primeiros meses de vida.
A pediatra Bárbara Simionato afirma que até o momento não há dados suficientes para falar sobre a relevância clínica da imunização do bebê, pois não existem estudos na literatura cientifica que comprovem a imunidade do bebê contra o vírus.
“Até o momento presente, não temos números exatos para o que chamamos de “correlato de proteção”, ou seja, qual é a porcentagem de anticorpos neutralizantes no sangue considerada suficiente para garantir que o indivíduo esteja imune para a COVID-19”, afirmou Bárbara Simionato.
Segundo a prefeitura, o bebê será acompanhado e passará por novos exames com 3 e 6 meses de vida para avaliar se ele segue com a presença dos anticorpos no sangue da criança.
Para o médico Juarez Furtado, que trabalha em Itajaí, no Litoral Norte, essa é a maior dúvida que só poderá ser respondida com outros estudos. Segundo o pediatra, as pesquisas ainda não souberam responder sobre o empo de imunização, nem mesmo para quem já foi vacinado contra o vírus.
“Nós temos alguns estudos que mostra seis meses, outros um pouquinho menos. Agora, com as variantes as coisas vão mudando, esse que é um problema, porque podem mudar as respostas imunológicas em alguns aspectos, assim como mudam os sintomas do paciente”, comenta.
Fonte: G1 SC