Ainda não é o fim da pandemia, mas os números da covid-19 na Bahia são otimistas. Depois de duas ondas de aumento exponencial nas mortes e casos da doença, os indicadores despencaram no estado. Tudo isso apesar do avanço da variante Delta, que já contabiliza 135 contaminações e duas mortes, de acordo com o último balanço do Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA).
A queda expressiva nos óbitos começou a ser observada a partir de julho. Entre os dias 6 de junho e 6 de julho, por exemplo, foram registradas 2.679 mortes. Já de 6 de julho a 6 de agosto, foram 1.479 mortes. De 6 de agosto a 6 de setembro, 670 e, no mesmo intervalo de setembro a outubro, o número caiu para 319 – uma redução de 88% desde julho. Os dados foram retirados dos boletins epidemiológicos da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
A tendência de queda continuou mesmo com a chegada da variante Delta ao estado. Os primeiros casos registrados na Bahia foram divulgados pela Sesab no dia 26 de agosto. Segundo a própria pasta, na última semana, 97% dos municípios baianos não tiveram registro de óbito por covid-19, considerando a data de ocorrência. É que, das 417 cidades baianas, apenas 13 tiveram mortes confirmadas pelas prefeituras. Para a secretária Tereza Paim, isso é um dos sinais do avanço da vacinação.
“Este é um reflexo do aumento da cobertura da imunização contra a covid-19. Quanto mais avançarmos, mais reduziremos a possibilidade de contágio e, consequentemente, o surgimento de novos casos e óbitos”, ressalta.
A queda de novas mortes está acompanhada da redução do número de novos casos. Entre os dias 6 de junho e 6 de julho, 106 mil novas infecções foram registradas pela Sesab. Nos 30 dias posteriores, foram 59 mil. Depois, 34 mil e, por fim, entre 6 de setembro e 6 de outubro, 12 mil novas infecções.
Com a redução das contaminações por covid-19, é esperado que o número de casos ativos caia progressivamente. No dia 6 de junho, 14 mil pessoas na Bahia estavam com a doença. O número caiu para 11 mil no dia 6 de julho, 4 mil em agosto, 2,6 mil em setembro, e, por fim, 2,5 mil em outubro.
Embora seja uma queda de 78% nos casos ativos se comparado a junho, a quantidade de pessoas atualmente contaminadas é praticamente a mesma de setembro. Para Matheus Todt, infectologista da SOS Vida, isso é um sinal de que a transmissão da covid ainda continua em alta no estado.
“A tendência natural de qualquer pandemia é perder força, se tornando menos patogênica, menos grave. Porém, como a queda de mortes é acentuada, nós atribuímos isso à vacinação. Só que a transmissão da doença ainda é alta, por isso o número de casos ativos”, explica.
Parte dessa contaminação pode estar sendo causada pela Delta, que tem alta transmissibilidade, como explica Sandra Gomes de Barros, infectologista e professora da Universidade Santo Amaro (Unisa).
“A delta é uma variante que tem importância na pandemia por causa da sua alta replicação viral, mas ela não é tão grave a ponto de levar a mais óbitos. A vacina tem ajudado, pois ela foi programada para evitar casos graves”, explica.
A última atualização de novos casos da Delta na Bahia foi feita no dia 25 de setembro pelo Lacen. A Sesab informou que a demora em ter novos dados se dá por causa da dificuldade em se realizar o exame que identifica a variante nas amostras dos pacientes. Todt acredita que isso é algo que contribui para a subnotifcação. “É muito possível que a maioria das grandes cidades já tenha mais infecções por causa da Delta”.
Internação também está em queda na Bahia
O efeito da vacinação, segundo os especialistas, contribui para reduzir também os casos graves de covid-19. Isso também é refletido nos números de internação de pacientes pela doença. No dia 6 de junho, 1.352 baianos estavam em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por causa do vírus. Um mês depois, eram 1.104, depois 636, depois 303, até atingir, em 6 de outubro, 185 internações.
Atualmente, a Bahia tem 721 leitos de UTI exclusivos para tratar covid-19. A taxa de ocupação está em 26%. Essa quantidade de leitos disponíveis é menor do que a metade do que se tinha em julho, 1.608 leitos.
Mesmo com todos esses números positivos, os especialistas destacam que isso ainda não representa o fim da pandemia.
“Pelo contrário, como já disse, ainda temos uma alta transmissibilidade do vírus e isso é perigoso, pois num cenário que ele circula bastante, pode ser que sejam até geradas novas variantes. Eu arriscaria dizer que só no ano que vem poderemos viver sem restrição nenhuma, ainda tendo casos e mortes isolados, mas já não em um cenário pandêmico”, projeta Matheus Todt.
A professora Sandra Gomes de Barros pensa da mesma forma. “Temos que continuar investindo nos cuidados pessoais, como uso de máscara e higienização, além de ampliar a cobertura da vacinação. Na saúde pública, isso é o mais importante na prevenção de doenças desse tipo. Enquanto ainda houver notificação de casos e óbitos, precisaremos de cuidado’”, defende.
Sobre o uso da máscara, o secretário municipal da Saúde (SMS), Leo Prates, considera que é precoce falar em abandonar seu uso. Algumas cidades do país já começaram a flexibilizar o uso do acessório, como Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
“Eu acho que essa discussão é totalmente inoportuna. O nosso problema não está no uso de máscara, está na retomada econômica, na retomada do turismo, na retomada do setor de eventos que é tão importante para nós”, avaliou o secretário, em evento no dia 07.
Pediatria também tem redução de casos
As crianças e adolescentes de zero a 19 anos estão se contaminando menos pela covid-19. Pelo menos, isso é o que mostram os dados da Sesab. Entre junho e julho, 13 mil baianos dessa faixa etária pegaram covid. O número caiu para 8,6 mil um mês depois, seguido de 3,7 mil e 2,2 mil novos casos entre 6 de setembro e 6 de outubro.
As mortes e internação também tiveram redução progressiva até outubro, quando registraram leve aumento se comparado com setembro. No caso, no dia 6 de setembro, 13 crianças e adolescentes estavam internadas em UTIs pediátricas. Em 06 de outubro, eram 16 pacientes. Já as mortes foram sete e quatro, respectivamente, nos dois períodos.
A taxa atual de ocupação das UTIs pediátricas na Bahia é de 55%. Para evitar que haja aumento nos casos entre os mais jovens, os especialistas recomendam a vacinação. “A vacina é eficaz para a Delta e todas as variantes que a gente conhece atualmente. Ela é a segurança de que chegaremos ao fim da pandemia”, diz o infectologista Matheus Todt.
Atualmente, a vacina contra a covid-19 é aplicada em crianças e adolescentes de 12 a 17 anos, com ou sem comorbidades. As autoridades municipais de saúde estão aguardando a decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para vacinar de 6 a 11 anos.
Reportagem original do Correio