O enterro de Cristal Pacheco comoveu pela juventude da vítima e pela sensação de vulnerabilidade diante da violência. O velório do corpo da adolescente de 15 anos começou por volta das 10 horas de terça-feira (02), na capela do Cemitério do Campo Santo, onde ela foi sepultada na parte da tarde.
A capela estava cheia de amigos e familiares que demonstravam o impacto com a notícia da morte da adolescente em uma tentativa de assalto e o quanto ela era amada. Abalados, os pais da menina ficaram em silêncio durante toda a cerimônia e choraram bastante, sendo amparados a todo instante. A irmã caçula, de 12 anos, foi preservada pela família e não viu Cristal ser enterrada. As informações são do Correio.
Algumas cenas marcaram a despedida da menina, como a presença de adolescentes que estavam emocionados e abalados em ter que lidar com uma morte violenta de forma tão precoce. Muitos eram amigos e amigas de Cristal desde bebês ou estudavam com ela. Os presentes se emocionaram quando três garotas tomaram a frente e carregaram, juntas, uma coroa de flores, enquanto o caixão da menina era levado por amigos e familiares.
A caminhada até o local onde ela foi sepultada foi silenciosa. No local, só era possível ouvir o som de passos e do choro dos presentes. Antes da despedida final, uma música religiosa foi cantada e muitas flores foram entregues para que fossem colocadas junto à adolescente. Quando a cerimônia foi encerrada, o silêncio foi substituído por gritos de ‘justiça’.
Brilhante e delicada
O adeus foi dado, mas as lembranças seguem vivas em quem guarda Cristal na memória. Primo da mãe da menina, Nilton Cesar Santos de Jesus, 47 anos, lembra com carinho da infância da garota. “Uma pessoa alegre, divertida, que só queria o bem. Gostava muito de estudar. Uma filha que queria dar orgulho para os pais. Ela foi porta aliança do meu casamento há oito anos. Essa é a lembrança que vai ficar de Cristal”, disse.
Mariana Guedes, 14, estudou com Cristal e lembra o quanto ela era especial. “Estudamos juntas por cerca de cinco anos. Ano passado ela mudou de escola, mas a gente não perdeu contato em momento algum. A gente continuou saindo, se vendo. Tenho ótimas lembranças dela, era uma menina incrível, de verdade. Um amor de menina, muito talentosa e atenciosa com todo mundo”.
A amiga contou ainda que Cristal esteve ao seu lado em diversos momentos difíceis. “Teve vários momentos que eu precisei dela e ela realmente esteve comigo, perto de mim, me acolhendo. Não foi só o tio Sérgio e tia Sandra que perderam ela, foram todos os nossos amigos, familiares e muita gente que sabia o valor que Cristal tinha. A gente pede orações. Rezem, porque Cristal merece. Ela era um doce de criança, um anjo”, relatou a adolescente.
Mãe de uma das melhores amigas de Cristal, Edilania de Oliveira, 35, também estava no enterro. Ela afirmou que a vítima era uma garota doce e que a perda é grande também para os amigos. “Muito educada, uma menina doce, comportada. Não tenho palavras para descrever. Minha filha está abalada, sem acreditar. Está todo mundo sem acreditar. Estive com a mãe dela mais cedo, está dilacerada, a família toda dilacerada. E nós mães, que temos filhos, a mesma coisa. Ela perdeu a filha dela e a gente perdeu um pedacinho também”, afirmou.
Eliene de Brito Alves, 43, amiga da família, contou que sua filha era amiga de Cristal desde os dois anos de idade e que está muito abalada com o ocorrido. “Cristal era uma menina inteligente, estudiosa e estava no 9° ano. Era uma menina cheia de sonhos, se dedicava demais aos estudos dela e, hoje, foi tudo levado, né?! Dela e dos pais”, lamentou.
Cristal, que morreu com a farda da escola, foi lembrada também pelo Colégio Mercês, onde estudava. “Querida por todos, sempre alegre, feliz, dedicada e muito educada, a aluna foi vítima da violência que cresce assustadoramente na nossa sociedade. Dessa forma, o nosso sentimento é de muita tristeza, compaixão e solidariedade com a família”, disse a instituição em comunicado. Em solidariedade com a família, o colégio instituiu três dias de luto a partir desta quarta-feira (3).
Entenda o caso
A adolescente Cristal Rodrigues Pacheco, 15 anos, que seguia para a escola, foi morta durante uma tentativa de assalto, a poucos metros da sede do Comando Geral da Polícia Militar, no Quartel dos Aflitos.
Moradora do Corredor da Vitória e estudante do Colégio das Mercês, a adolescente estava acompanhada da mãe e da irmã quando foi abordada. Segundo informações iniciais, no meio da ação, uma das suspeitas, que carregava uma pistola calibre 653, colocou a arma no peito da vítima e disparou contra ela antes de fugir.
O crime aconteceu em frente ao Palácio da Aclamação, próximo ao Campo Grande. Cristal não resistiu aos ferimentos e morreu antes mesmo de ser atendida. A mãe e a irmã de Cristal não sofreram ferimentos.
Em nota, a Polícia Militar informou que foi acionada por volta das 7h através do Cicom. Equipes do 18º BPM, unidade responsável pelo policiamento da região, foram até o local e já encontraram a estudante baleada.
Os policiais acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que constatou a morte da vítima. A área foi isolada até a chegada do Departamento de Polícia Técnica (DPT) e da Polícia Civil, que investigará o crime.
Reportagem do Correio *Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo