Um “trio ternura” improvisado, com apenas um membro da formação original em ‘Cidade de Deus’, desembarcou em Salvador, há 20 anos, dessa vez tentando fazer jus ao nome. Além de Renato de Souza, intérprete de Marreco, também esbanjaram simpatia e boa vontade com estudantes e fãs baianos dois protagonistas da obra-prima dos diretores Fernando Meirelles e Kátia Lund: Leandro Firmino da Hora, que fez Zé Pequeno, e Alexandre Rodrigues, outro estreante nas telinhas que botou para lenhar como Buscapé.
A ocasião da visita, lembrada aqui a dois dias de o filme completar duas décadas de lançamento – o que ocorreu na última terça-feira (30) – foi uma palestra dos rapazes na Universidade do Estado da Bahia (Uneb), às vésperas do Natal de 2002, quando o filme já era um sucesso mundial e colecionava premiações e elogios empolgados de público e crítica. E os temas do debate no ambiente acadêmico, como não poderiam deixar de ser, eram relacionados a questões levantadas no longa: racismo, identidade negra e violência urbana.
Além da passagem pela capital – a primeira viagem dos três à Bahia, ainda sem saber detalhes importantes da cidade, como a existência do Bando de Teatro Olodum -, ainda rolou uma esticada até Conceição do Coité, no sertão baiano, onde o filme foi exibido em praça pública, como comemoração aos 10 anos de inauguração do campus XIV da Uneb.
Na reportagem de 18 de dezembro, com Alexandre, Leandro e Renato já consagrados em suas iniciáticas carreiras, entrou até o tema das cotas para afrodescendentes em instituições de ensino superior, que só viriam a ser instituídas 10 anos depois. O texto não menciona como o tema foi abordado.
A matéria envereda pelos caminhos dos três atores para chegar às telonas – dois deles chegaram a fazer teatro amador, mas Leandro Firmino nem isso -, e há uma crítica social do próprio intérprete de Zé Pequeno sobre a recepção do filme: “As pessoas se fingem de chocadas”.
Coité
A viagem para Conceição do Coité também foi bastante proveitosa para o trio, que teve uma recepção calorosa na cidade, como conta o poeta cordelista Carlos Neves de Freitas, 61, que na época das visitas ilustres era coordenador administrativo e contábil do Campus 14 da Uneb – uma espécie de braço direito da direção da unidade.
Além de, mais uma vez, participarem de uma palestra para estudantes e professores unebianos, Leandro, Alexandre e Renato marcaram presença na exibição do filme em praça pública, para uma multidão. Na véspera, também havia a previsão de exibição do filme para a estudantada da Uneb na capital, mas acabou adiada por problemas técnicos. Em Coité, a falha quase se repetiu.
“A gente armou toda a infraestrutura, botou telão na praça, mas estava muito vento. Tivemos dificuldade com a posição da coisa toda. Inclusive deu pane em um dos equipamentos, eu briquei com um dos técnicos, mas no final deu tudo certo. O pessoal lotou a praça. As pessoas sentaram na calçada mesmo, a gente tinha colocado um montão de cadeiras, e foi muito bonito”, comenta Carlos, que além de comandar aquela expedição dos astros de ‘Cidade de Deus’ – foi quem levou os atores para churrascaria, sorveteria, hotel -, comanda há anos um Museu Histórico-Cultural em Conceição do Coité.
Zé Pequeno, Buscapé e Marreco ainda dormiram em Coité, e no dia seguinte seguiram para Feira de Santana, onde deram entrevistas para emissoras de rádio e televisão.