Diante dos indícios e, por fim, da concretização da derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, diversas violências sucederam-se nestes territórios, entre elas ameaças de morte, disparo de tiros, abertura de trincheiras na estrada, destruição de ranchos, pontes e cercas, além de veredas queimadas, em novas ofensivas realizadas a mando de fazendeiros. A disputa se dá por áreas de vegetação nativa do Cerrado, repleta de veredas com nascentes conservadas pelas comunidades que há mais de dois séculos se estabeleceram na região. As informações são do Portal Rádio Jornalista
Trata-se de cinco áreas comunais de Fundo e Fecho de Pasto ameaçadas, estas denominadas Capão do Modesto; Porcos, Guará e Pombas; Cupim; Vereda da Felicidade e Bois, Arriba e Abaixo, que abrangem aproximadamente 25 comunidades de ambos os municípios. Todas essas áreas possuem uso comunal e tradicional ao longo de mais de 300 anos, por aproximadamente 500 famílias que criam seus animais soltos em áreas nativas de Cerrado conservadas e sobrevivem do extrativismo e da agricultura de subsistência.
Os conflitos na região já acontecem desde a década de 70, no entanto, se agravam a cada ano, principalmente com o avanço do agronegócio nestas áreas de uso comunal das comunidades tradicionais. De acordo com a recente série de reportagens publicadas pelo projeto Meus Sertões em parceria com a CPT Bahia, o objetivo dos empresários é tomar as terras ainda intactas do Cerrado para cumprir o Código Florestal, que exige reservas legais equivalentes a 20% dos latifúndios, onde se plantam, principalmente, soja e algodão. A lei exige que a reserva seja do mesmo bioma destruído, mas não obriga que ela esteja inserida na mesma fazenda.
Durante os últimos 90 dias, as comunidades tradicionais e organizações têm feito inúmeras denúncias junto aos órgãos competentes do Estado da Bahia, porém, a morosidade tem provocado danos e agravos na situação. No dia 28 de setembro, a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado encaminhou um requerimento ao governador Rui Costa (PT-BA) e a outras oito autoridades, entre elas secretários estaduais de Segurança Pública, Desenvolvimento Rural, Justiça e Direitos Humanos, Promoção da Igualdade Racial, a delegada geral da Polícia Civil, o chefe da Casa Militar da Bahia, a delegada responsável pelo Grupo Especial de Mediação e Acompanhamento de Conflitos Agrários e Urbanos (Gemacau) e a Coordenação de Desenvolvimento Agrário (CDA).
No documento consta que, entre os dias 10 e 18 de setembro, 18 homens com armas de diversos calibres formam uma milícia rural que destruiu casas de abrigo e ranchos do Fecho do Cupim. Informa ainda que um dos fecheiros, membro da comunidade do Capão do Modesto, foi interceptado por homens armados no dia 26 de setembro, na estrada de ligação entre a sede do município ao povoado.